Outro conto sombrio dos Grimm, Adam Gidwitz, tradução de Rodrigo Abreu, 1ª edição, Rio de Janeiro-RJ: Galera Júnior, 2016, 352 páginas.
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Aqui muitas coisas são diferentes do que você está imaginando, então não pense que já conhece essa história. Talvez você conheça João, porém não deve imaginar que a sua prima Jill é uma princesa, tampouco o que de fato acontece quando os dois juntos sobem em um pé de feijão para encontrarem com gigantes e procurar por um artefato mágico. E ao refletir sobre essas histórias você tem apenas duas opções: acreditar que tudo acaba por aí ou que muitas coisas sangrentas e horrorosas podem aparecer no caminho de João e Jill.
Acertou quem escolheu a segunda opção.
“Lá no alto, as primeiras estrelas tinham acabado de começar a aparecer no céu. As lágrimas que caíram no poço agitaram a superfície da água e, com isso, o reflexo das estrelas. Agora, talvez você saiba e talvez não, mas essa é a única forma de acordar as estrelas. E foi o que aconteceu” (pág. 26).
A primeira coisa que é preciso deixar claro que é que Outro conto sombrio dos Grimm é o segundo livro de uma série independente escrita por Adam Gidwitz. Começo dessa forma porque fui pego de surpresa ao descobrir tal informação, pouco antes de iniciar a leitura, e isso certamente influenciaria a minha opção por este livro, embora aparentemente a única ligação entre os dois seja a influência do autor na criação de suas personagens e enredos.
Dito isso, posso afirmar que a ideia foi o que mais atraiu a minha atenção. A febre de releituras dos contos de fadas foi uma das que mais me conquistaram. Enquanto muitos estavam preocupados com livros de bruxos, vampiros e lobisomens, e em gêneros como as distopias, os young adults e os sick-lits, eu queria apenas conhecer mais e mais releituras. Confesso que foram poucas, mas quase todas reservaram ótimas experiências.
Neste caso, Gidwitz faz uma releitura da história de “João e o Pé de Feijão”. O autor, que se baseou especialmente nas obras dos irmãos Grimm e de Hans Christian Andersen, tinha como intenção mostrar como eram as histórias originais, antes de se tornarem fofinhas e repletas de infantilidades. E a ideia de mostrar a verdadeira história acaba surtindo efeito também no estilo literário do autor, que desde o início narra a história abrindo espaço para uma conversa com o seu leitor.
Não é por menos que em diversas oportunidades, alternando entre a narrativa comum e essa conversa descontraída, o autor dá a sua opinião e até mesmo tenta alertar o seu leitor sobre o que está prestes a acontecer — é bem verdade que sempre exagerando um pouquinho. Mas claro que ele faz isso com uma única e clara intenção: incentivar o leitor a não abandonar o livro sem antes ter a certeza do que acontecerá nas páginas seguintes.
O grande problema é que apesar desse estilo narrativo geralmente aproximar e envolver o leitor, dessa vez isso não aconteceu e em nenhum momento. A curiosidade até era despertada em algumas situações, porém bastava iniciar a leitura que os meus pensamentos se voltavam a qualquer outra coisa que não o enredo. E confesso que até agora não compreendo como isso pôde acontecer, visto que não há nada de monótono na história de João e Jill.
Essas personagens estão longe de serem as melhores da literatura infanto-juvenil, e seria loucura exigir algo do tipo, mas não deixa de ser interessante acompanhá-las em seus objetivos. Durante todo o percurso dessa dupla, que tem a companhia de um sapo simpático e muito falante, eles enfrentam gigantes, conhecem sereias, encontram duendes e entram dentro de uma salamandra, tudo para alcançar um único objetivo. Objetivo esse que vai se construindo através do que de mais horroroso pode existir em um livro que serve de incentivo ao hábito da leitura.
Embora seja um romance, todos esses elementos se encontram em diferentes histórias que aos poucos vão se interligando perfeitamente, mostrando como contos de fadas podem ser sangrentos e por vezes nojentos. Quer dizer, ao menos se você for uma pessoa que não gosta de algumas coisas fora da normalidade, o que não é o meu caso.
Mas, se for o seu caso, acredite: por mais que não seja fisgado para dentro das páginas, avance a sua leitura. No final você encontrará uma ótima mensagem, compensando todo o esforço e os momentos de distração.
“Esse era um pensamento realmente muito sábio.
Mas fiquem atentos, caros leitores. Pois nós saímos no enorme mundo selvagem à procura de mudanças, esperando crescer, atrás de sabedoria. Mas sabedoria é algo difícil de encontrar e, quando é alcançada, pode se perder muito facilmente. Especialmente quando as pessoas estão abandonando o enorme mundo selvagem para voltar ao lugar de onde um dia fugiram” (pág. 274).
Olá Ricardo!
ResponderExcluirRealmente releituras de contos de fadas estão um pouco em alta. Não tanto assim, mas estão.
Esse ano também li uma série de releitura de contos de fadas: Saga Encantadas. Não é tão assustadora e nojenta como este livro, é mais com foco no erótico mesmo.
Achei interessante a proposta do livro e fiquei com vontade de ler.
Beijos!
Oiie Rick,
ResponderExcluirQue coisa mais linda essa resenha, adoro, ADORO contos de fada. E agora saber desse livro me causa um entusiasmo enorme.
Vou roubar o seu para mim. rsrs
Parabéns pela resenha.
Beijos
Madu