Ultra Carnem, Cesar Bravo, 1ª edição, Rio de Janeiro: DarkSide Books, 2016, 384 páginas.
Sou paulistano, mas aos 17 me mudei para o interior de São Paulo, onde vivo desde então. Morei em várias cidades, da fronteira do sul de Minas até a região central do estado. Dentre os ditados caipiras que me vêm à mente quando penso no livro Ultra Carnem, de Cesar Bravo, o que melhor define a obra é se está no inferno, abrace o capeta! Cesar Bravo nasceu em uma cidadezinha perto de Ribeirão Preto, e não sei quanto tempo morou nesse interiorzão, mas o fato é que esse período ficou tão marcado em sua memória que ele usou de cenário para sua obra máxima. Criou nomes fictícios para essas cidades, pois ninguém gostaria de ver sua cidadezinha ser chamada de buraco de merda, ou coisa assim, mas nós sabemos do que ele está falando. Eu já morei em lugares assim, sei bem como é.
Quanto à parte gráfica, é um volume com a marca de excelência Darkside. Capa dura, com um material meio emborrachado, e um design gráfico atraente. Dizer mais é quebrar o elemento surpresa.
O livro narra a trajetória de um artista cigano chamado Wladimir Lester e de outros personagens que de uma maneira ou de outra acabam tendo a vida miserável arruinada em virtude de entrar em contato com as obras de arte malditas do artista, ou de alguma maneira interferir na trajetória do personagem. A partir dessa premissa o autor cria no romance quatro histórias que se fundem em uma conclusão dantesca.
Na primeira parte do livro somos introduzidos à Lester, um pobre menino órfão que é deixado em um orfanato da pequena cidade de Três Rios, aos cuidados de um padre. O livro é muito bem escrito, a leitura flui naturalmente e quando você menos espera está enredado na trama macabra tecida meticulosamente, fio a fio. Essa parte parece ter sido feita sob encomenda para os fãs de terror mais tradicional, e apesar de atiçar a curiosidade, não é o ponto alto do livro. Posso estar errado, mas acredito que essa parte foi escrita há mais tempo do que as outras, pois utiliza fórmulas do terror clássicas.
Você nunca encontra o que procura. O tempo come tudo, Nôa. Roupas, valores, devora inclusive a esperança de nos entendermos com o passado. O que aconteceu com o tal menino e com as outras pessoas deste livro é algo que não pertence a nós.