Welcome to Copacabana & outras histórias, Edney Silvestre, 1ª edição, Rio de Janeiro-RJ:
Record, 2016, 352 páginas.
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Por um motivo que particularmente desconheço, não é normal a criação de uma lista com os nossos jornalistas favoritos, porém se hoje fosse obrigado a criar essa lista não tenho a menor dúvida de que Edney Silvestre seria o primeiro nome lembrado. Embora não saiba dizer quando minha admiração por ele começou, sei que foi responsável por algumas das minhas matérias/coberturas favoritas e por isso tenho o costume de parar o que estou fazendo para ouvi-lo. Talvez esse seja o principal motivo que me levou a querer conhecer os seus livros.

Ganhador do Prêmio Jabuti, o mais importante da literatura brasileira, Edney acaba de lançar Welcome to Copacabana & outras histórias, livro que reúne vinte contos divididos em três partes: No Rio, Além do Rio e De Volta ao Rio. Isso deixa claro que nos primeiros contos o autor explora ao máximo o Rio de Janeiro e aí que está o grande barato da obra, em especial pelo fato de ainda não conhecer a Cidade Maravilhosa e todos os seus encantos (e aqui faço uma pausa para dizer que o maior desejo é conhecer o Cristo Redentor, por me orgulhar de ser conterrâneo de um dos responsáveis por sua criação).

Digo que esse é o grande barato porque lendo não é difícil se sentir no Rio de Janeiro. Por minha relação com a cidade ser apenas através das telas da televisão, a forma como autor descreve o cotidiano, e os próprios cariocas, estreita a relação com o desconhecido e apresenta uma faceta que geralmente não se está acostumado. Isso é mais forte e especial no conto que dá título ao livro.

“Welcome to Copacabana” é o melhor conto e basicamente mostra a que veio o livro em questão. Embora seja uma história muito simples sobre uma mulher solitária, ele revela o cotidiano de uma personagem forte que não apenas precisa lidar com a vida solitária e as lembranças do marido falecido, como também com o que a rodeia: seus vizinhos, seu bairro e a agitação de sua cidade. Ao longo de toda a história, o autor se aproveita da sua incomparável aptidão com as palavras para presentear o seu leitor com momentos tocantes e algumas surpresas inimagináveis, abrindo a obra com grande maestria.

Mas claro que como toda antologia esta conta com alguns contos que ficam aquém do esperado, alguns por enredos não convincentes e outros por se mostrarem confusos em alguns momentos, apesar da qualidade inegável da narrativa de Edney. Não é o caso dos contos “Pedro em Paestum” e “Silvio trabalha”. No primeiro, apesar de todo o clichê por trás de seu desfecho, ele surpreende em muitos momentos, característica presente em várias histórias; no segundo conto, a intensidade da narrativa é algo que torna tudo belo e ao mesmo impactante.

Após fazer um passeio pela França, Itália e Estados Unidos, o autor retorna ao ponto de partida para um conto que dá continuidade a história inicial. Ao chegar ao último conto, Edney Silvestre não tem mais nada o que provar a ninguém. Como se ainda precisasse provar algo! No entanto, ressalto que alguns contos são infinitamente melhores do que outros, porém a força das palavras do escritor, que em outrora conhecia apenas das matérias jornalísticas, e a forma como ele dá vida ao simples, apenas comprovam porque ele é um dos autores brasileiros mais traduzidos da atualidade.
“Suave é a noite que em Copacabana tudo harmoniza e que abranda os contornos mofados de prédios um dia belos em sua arquitetura dos anos 1930, envolve em sombra o sono dos derrotados sob as marquises, atenua as marcas de anos de humilhações e quase, quase embeleza as mulheres a se vender pelas calçadas e mesas dos quiosques, cobre com tintas coloridas as barraquinhas de camisetas e bugigangas, abafa o choro das horas de moleques e meninas sempre em movimento por não terem para onde voltar” (pág. 41).

2 Comentários

  1. Rick,

    Curti muito a resenha, está fantástica como sempre, você tem o dom para escrever esse tipo de texto e também tanto outros tipos. Mas não irei ler esse livro, não chamou minha atenção. Mas talvez um outro do autor, algum dia.

    Beijos, até mais.

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  2. Olá Ricardo!
    Adorei a resenha. Não sou a maior fã de livros que falem de cotidiano, mas achei interessante pela obra ter passagens no Rio. Com certeza me identificaria muito.
    E acredite, eu sou nascida no Rio e fui ao Cristo Redentor apenas uma vez. Os passeios para quem mora aqui acabam ficando caros, sem contar o tempo que leva para chegar. Até tem o "carioquinha", que é uma promoção para os nascidos no Rio, ganhamos desconto nos pontos turísticos, mas é no inverno, em Julho/Agosto. Ai ir no Cristo com nuvens é meio triste!
    Beijos!

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