Pacto Secreto, Eliane Quintella, 1ª Edição, Osasco-SP: Novo Século (Novos Talentos da Literatura Brasileira), 2011, 357 páginas.
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Para o ser humano é inevitável o desejo de querer ajudar as pessoas que estão mais próximas e que por isso são amadas. Às vezes, não nos importamos com o que é preciso fazer para ajudar, e para isso enfrentamos céus e terras, o bem e o mal, o medo e a incerteza.
Por mais que a sociedade esteja evoluída, falar sobre o Céu e o Inferno, questionando a religião e o que é certo ou errado, será sempre um tabu, e talvez por isso seja difícil encontrar obras que falem sobre um pacto feito com o Diabo. Justamente por isso que o livro Pacto Secreto, escrito pela parceira Eliane Quintella, se destaca no meio de inúmeros livros nacionais.
Formada em Direito, Eliane aproveitou os momentos em que precisou ficar em casa, devido a um pulso quebrado, para escrever a história de Valentina Soares, uma mulher linda, independente, batalhadora, e com uma ótima situação financeira, que apenas melhora quando ela assume os negócios da família. No entanto, a vida da família de Tina muda radicalmente quando Sara, sua irmã gêmea, sofre um acidente e fica tetraplégica. Devido aos fatos que causou esse acidente, Tina se sente responsável pelo novo estado da irmã, e por isso diz aceitar ajuda, mesmo que essa viesse do Diabo.
Quando menos espera que algo possa realmente acontecer, Tina se encontra com um homem de beleza incomum, que rapidamente chama a sua atenção. Ela só não imaginava que o homem era um enviado de Satan, que diz poder ajudá-la, mas que para isso ela precisaria fazer um pacto e aceitar as três regras impostas, sem nem ao menos saber se essas eram as únicas regras. Valentina vê nesse pacto uma ótima chance de resgatar a vida que sua irmã e toda a família tinham antes do acidente, porém seria necessário pensar antes de tomar qualquer decisão, afinal, nunca se sabe do que Satan e seus seguidores são capazes.

“Eu estava com um vestido preto maravilhoso e estava me achando particularmente linda naquela noite. De alguma forma, eu ficava muito bem de preto, combinava com meus cabelos negros, meus olhos verdes e minha pele clara. Sempre fui muito bonita. Porém, tinha passado um bom tempo em que eu não ligava muito para mim; eu vivia mecanicamente e sem ânimo algum” (pág. 11).

Não foram necessárias muitas páginas para se encantar com a escrita e a história desenvolvida por Eliane Quintella em Pacto Secreto, primeiro livro de uma trilogia que não só nos passa uma mensagem interessante, como nos apresenta a uma personagem marcante, guerreira, e que ainda assim não consegue lidar com o sentimento de culpa. Nesse momento que Valentina percebe que apenas ela, a possível responsável por tudo o que aconteceu, pode ter a chance de ajudar Sara, já que ela não se limitaria a nada, nem mesmo à moral cristã com que foi educada por seus pais.
Porém, antes de aceitar qualquer pacto oferecido pelo enviado de Satan, Valentina faz uma minuciosa pesquisa, que resulta nos momentos mais estruturados da obra de estreia de Quintella. Nota-se que foi necessária uma pesquisa por parte da própria autora, que não apenas narrou muito bem a situação de Sara e o sentimento de uma mulher que necessita de ajuda até para fazer suas necessidades fisiológicas, como também toda a mitologia cristã por trás da figura de Satan. Seja com histórias reais, como é o caso de São Cipriano, possíveis lendas sobre o satanismo, ou ainda com passagens da Bíblia, encontramos uma riqueza de informações e detalhes que nos coloca dentro da mente de Tina, que passa grande parte do livro se questionando sobre a sua decisão.
Mas para tomar essa decisão, a protagonista se arrisca ao se envolver com o Diabo sem medir as consequências, e aos poucos descobre mistérios sobre as pessoas ao se redor, que não são poucas, bem como o que pode lhe acontecer no futuro. E mesmo após a sua morte, o pai de Valentina é a única pessoa em que ela pode confiar, e por isso ele a ajuda com conselhos, proporcionando cenas de pura reflexão. Aliás, são reflexões e inclusive citações, como a Fernando Pessoa e Nietzsche, que fazem de Pacto Secreto um livro para também passar uma mensagem, assim como citado no início.
Com inúmeras personagens, que são bem descritas e utilizadas em cada capítulo, sobretudo na parte final do livro, Pacto Secreto consegue ter uma narrativa empolgante, o que possibilita a leitura em questões de horas, mesmo com diálogos formais e muitas descrições. A cada novo capítulo, somos surpreendidos com novas revelações e dúvidas que surgem. Algumas dessas dúvidas são respondidas imediatamente, enquanto outras ficarão para o próximo livro, Prazer Secreto, ainda sem previsão de publicação.
Dividido em três partes narradas em primeira pessoa, sendo uma delas narrada pela própria Sara, Pacto Secreto envolve um tema polêmico, ao mesmo tempo em que rende muitos pontos inovadores. Certamente é um livro para ser lido, relido e indicado, já que mostra ao leitor que o dinheiro pode não ser suficiente para realizar todos os desejos, e que o sentimento de culpa pode causar revolta, tristeza, mas também a vontade de consertar o erro, mesmo quando esse não foi cometido por nós mesmos.

“Mas será que realmente tudo era coisa do diabo? Será que o diabo era o bode expiatório para o homem jogar suas fraquezas? Será que o homem só queria culpar alguém por suas próprias maldades? Será que era justo eu culpar o diabo pela minha própria vaidade? Afinal, tinha sido eu quem sugeri a troca de animais. Eu, apenas eu” (pág. 181).

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