Ensaio Sobre a Cegueira, José Saramago, São Paulo: Companhia das Letras, 2011, 310 pág.
Publicado no ano de 1995, trata-se de uma das obras mais conhecidas do escritor, argumentista, teatrólogo, ensaísta, jornalista, dramaturgo, contista, romancista e poeta português José Saramago. Esta obra é tão conhecida que já sofreu adaptação teatral e cinematográfica. José Saramago nasceu em 16 de novembro de 1922 e faleceu em 18 de junho de 2010 é um escritor contemporâneo e tão conhecido que dispensa apresentação.
O livro se inicia com um homem que ao parar o carro no sinal vermelho acaba ficando cego, uma cegueira branca. A partir daí algumas outras pessoas também ficam com a cegueira branca e o Estado como meio de prevenção da ‘suspeita’ de uma epidemia contagiosa coloca todas as pessoas que adquiriram a cegueira em um manicômio, ou seja, em quarentena. Entretanto, a cegueira branca toma proporções hediondas, onde todas as pessoas adquirem este mal. Neste ínterim, dentro do manicômio, trancafiados e sem poderem sair os cegos, postos em quarentena, vivem em situações degradantes, mas apenas uma mulher (a mulher do médico) consegue sair incólume da cegueira, muito embora vá para o manicômio afirmando que não vê só para ficar ao lado do esposo. "Penso que não cegamos, penso que estamos cegos, Cegos que vêem, Cegos que, vendo, não vêem." (p.310).
Um livro que realmente traz uma história crua mostra a humanidade não tão humana. Pessoas que mesmo diante das piores situações se mostram ruins. Como se a essência do homem não fosse ser bom e sim, ser mal. Como se as pessoas usassem máscaras o tempo todo só pelo fato das outras poderem ver o que fazem criticarem e repudiarem as ações, entretanto, num mundo de cegos, onde ninguém vê o que o outro faz a desumanização do homem é a realidade mais palpável que existe. Quando ninguém pode ver o que você faz você age por instinto, por impulso, não se deixa levar por regras, códigos morais e éticos. “Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos.” (p.262). Em um mundo de cegos tudo é permitido!
Sem sombra de dúvida é inquestionável a magnificência de “Ensaio Sobre a Cegueira”, um livro que merece ser lido, degustado e refletido. No entanto, é importante ressaltar que há cenas muito fortes, que mostram (como disse anteriormente) uma crueza e frieza enorme nos seres humanos. Saramago dissecou a alma humana e não há como questionar: somos aquilo que ele descreveu. Caso vivêssemos a mesma situação não seria de se admirar que as nossas atitudes se assemelhassem com as dos personagens da Obra.
Mesmo tendo gostado muito de “Ensaio Sobre a Cegueira” devo admitir que não é uma leitura fácil, as pontuações livres e a falta de separação entre uma fala e outra e parágrafos muito extensos dificultam muito a compreensão da obra, e por isso há casos em que tive que ler mais de duas vezes certas passagens para entender quem falava. Creio que algumas palavras em português de Portugal também não ajudam muito, mas é muito boa a história, recomendo muito. Como sempre tenho me posicionado favorável a leitura de clássicos não posso deixar de indicar “Ensaio Sobre a Cegueira”. Continuo fiel à concepção de que os clássicos merecem e devem, sim, ser lidos!
Camila Márcia
PS.: Quero aproveitar a oportunidade –sou uma oportunista, eu sei– para indicar o filme da obra “Ensaio Sobre a Cegueira” (Blindness, em inglês) dirigido pelo brasileiro Fernando Ferreira Meirelles, mas antes eu aconselho lerem o livro primeiro e depois assistirem ao filme. Claro que há muitas cenas que ficaram de fora e muitas partes que não são fieis ao romance, mas é uma das produções de livros mais fieis que eu já assisti, por isso estou indicando, ademais a fotografia do filme também é excelente, passa totalmente a mensagem do livro.