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As brigas em estádios de futebol – e de outros esportes também – já se tornaram rotina nos noticiários, porém, apesar de toda a violência causada semanalmente, sobretudo em clássicos, não é sempre que um estádio, que deveria ser um local de laser e diversão, acaba se transformando em um verdadeiro campo de guerra onde pessoas perdem a vida e centenas ficam feridas. Isso aconteceu na última semana, no Egito.
Cerca de 74 pessoas morreram e mais de 600 ficaram feridas após a invasão que aconteceu na última quarta-feira (1), em um jogo válido pela primeira divisão do campeonato egípcio. Realizada na cidade de Port Said, nordeste do país, a partida marcou a primeira derrota na temporada do atual campeão, Al Ahly, principal time do país que tem sua sede na capital Cairo. Toda a confusão começou após a derrota do Al Ahly para o time mandante, o Al Marsy, pelo placar de 3 a 1.
Os torcedores da casa, empolgados com a vitória, causaram a paralização da partida ainda no segundo tempo em comemoração a um dos gols da vitória, no entanto, o que era apenas o uso de fogos de artifício se transformou em uma invasão e agressão na equipe (jogadores e comissão técnica) do time adversário. No tumulto, torcedores visitantes também invadiram o campo e foram agredidos. Nem a polícia conseguiu parar o tumulto.
Mohamed Abo Treika, atacante do Al Ahly, comentou sobre o ocorrido em uma entrevista: Isso não é futebol. É uma guerra, e as pessoas estão morrendo na nossa frente. Não há movimento, não há segurança e não há ambulâncias.
O tumulto afetou também uma partida que acontecia na capital. Ao saber sobre o que aconteceu em Port Said, um árbitro paralisou a partida que acontecia no Estádio Internacional do Cairo, e como forma de protestos, torcedores colocaram fogo no estádio. Já na sexta-feira (03), manifestantes armados com pedras protestaram em frente ao Ministério do Interior, e obrigou os policiais a agirem com gás lacrimogênio e uso de armas. Mais pessoas perderam a vida nesse protesto, que acusava as autoridades de terem responsabilidade no tumulto que aconteceu dias antes.
Fábio Júnior, jogador brasileiro que já jogou em times tradicionais como Flamengo, Vasco e Internacional, atualmente defende as cores do Al Ahly e marcou o único gol do time na partida. O jogador cedeu uma entrevista para o canal de esporte SportTv onde descreveu o que acompanhou de perto na quarta-feira: Eu tive muito medo, pensei primeiro na minha família nessa hora. Mas graças a Deus, não aconteceu nada comigo. Nós estávamos no vestiário e a torcida querendo entrar e não tinha quase segurança nenhuma. No mesmo instante vinha um torcedor sangrando, outro com perna quebrada dentro do vestiário para o doutor acudir. O campeonato egípcio foi suspenso por tempo indeterminado e por isso Fábio Júnior opinou sobre o futuro do futebol no país: Eu acho que o futebol do Egito vai acabar por causa dessa violência, porque não tem segurança nos estádios.
Para alguns especialistas, o tumulto causado na partida da última quarta-feira é só mais uma forma de protesto dos egípcios contra a junta militar que comanda o país desde a queda do ex-ditador, Hosni Mubarak, em janeiro de 2011. Um dos argumentos usados pelos especialista é a não abertura dos portões do estádio quinze minutos antes do fim da partida, como sempre acontece no país. Portanto, o ataque teria sido armado e a polícia omitira e ajudara para que a confusão se tornasse ainda maior.
Mesmo que isso de fato tenha acontecido, a mancha deixada por esse episódio não será esquecida, assim como a Tragédia de Heysel, ocorrida em 29 de maio de 1985, onde 38 pessoas morreram e um número indeterminado se feriram em uma partida que decidia a Taça dos Campeões Europeus daquele ano. Na oportunidade, Juventus (Itália) e Liverpool (Inglaterra) decidiam o torneio e os torcedores do time inglês começaram o ataque que entraria para a história. No final, a partida que nenhum torcedor gosta de lembrar teve o time italiano como vencedor, após um gol de Michael Platini.
Que o tumulto egípcio sirva de exemplo para torcedores do mundo todo.