Porque Eu Amei, Roque Neto, 1ª Edição, Içara-SC: Dracaena, 2011, 240 páginas.

Nascido em Esperantina, no Piauí, o autor parceiro Roque Neto sempre demonstrou o interesse pelo conhecimento. É graduado em Filosofia, pós-graduado em Psicopedagogia e Gestão Escolar, e possui ainda mestrado em Educação. Atualmente vive na Califórnia, onde continua seus estudos, ao mesmo tempo em que trabalha na divulgação de suas obras literárias, que incluem Narciso: tédio e fúria, lançado em 2010, e Porque Eu Amei, que teve seu lançamento em setembro de 2011 pela editora Dracaena.
Em Porque Eu Amei, o autor nos conta a emocionante estória de José Lucas, membro de uma tradicional família católica, que apesar de todos os seus conflitos pessoais, ordenou-se padre, sem esperar que um dia se apaixonasse, como aconteceu ao conhecer o irlandês Thomas O’Doherty. Enquanto vive intensamente esse amor, padre José Lucas tem suas funções na diocese de Campinas e é indicado para se tornar bispo de uma diocese mineira, o que era o grande sonho de sua mãe. Antes de aceitar a indicação, José precisa enfrentar as dúvidas que pairam sobre sua cabeça: assumir sua homossexualidade ou continuar seguindo os desejos de sua mãe?
Ao contrário do que pode parecer, o livro mostra muito mais do que a incerteza de uma pessoa em assumir sua homossexualidade, afinal, não estamos tratando de uma pessoa comum e sim de um padre respeitado por ser de uma família tradicional e por exercer um importante trabalho em uma diocese como é a de Campinas. Claro que se trata de uma ficção, e o autor deixa isso claro na nota em que escreve ainda nas primeiras páginas, mas como em qualquer obra que se tem a Igreja Católica como cenário, podemos esperar polêmica (detalhe: sou católico) e tenho certeza que Porque Eu Amei é um livro capaz de polemizar.
“Eu queria justiça, o bispo oferecia misericórdia. Não devia esperar outro comportamento dele. Era este tipo de atitude que o distinguia de tantas outras autoridades religiosas, às vezes, para o bem, outras, para o mal (pág. 102)”.
Por mais que uma polêmica possa ser gerada pelo livro, ele conta a estória de um personagem forte e marcante, como padre José Lucas. Mesmo que seja uma ficção, o personagem é muito real e percebemos isso em suas decisões. Ele não tem medo de esconder de si mesmo os sentimentos e sua identidade, porém, ninguém  conhece o verdadeiro José Lucas, a não ser o leitor, que acompanha as dúvidas e os desejos do personagem. Ele tem medo de se mostrar, e esse talvez seja um dos maiores defeitos do padre, afinal, se ele é capaz de amar intensamente, mesmo com suas responsabilidades, por que não revelar o seu verdadeiro eu? Claro que isso envolve muito mais do que o medo, e José Lucas tem muitos motivos para não se abrir e conhecemos esses motivos com o passar dos capítulos.
Contado em primeira pessoa, o livro é dividido em duas partes (Preto e Branco; Aquarela), sendo que os capítulos são alternados, ou seja, em alguns momentos o narrador-personagem nos conta sobre sua vida sacerdotal, em outros, passagens importantes de sua infância e adolescência. Conhecemos nesses momentos, a família Lucas e personagens que têm grande importância na vida do padre, como Jurandir, e a própria mãe, Elisa Lucas.
Dos diversos personagens que estão relacionados com a vida de Pe. José, por alguns deles sentimos certo ódio e por outros um carinho especial, como é o caso de Dom Castelletti, bispo de Campinas e quem indica o nome de José para se tornar bispo da diocese mineira. Dom Castelletti tem grande importância na vida do padre, e é um personagem interessante, e serve, em alguns momentos, como o pai que José nunca teve. O avô e claro, Thomas, responsável pela grande mudança na vida do sacerdote, também são importantes.
“Mas troféus perdem o brilho, cinco minutos depois que os recebemos, quando os largamos em uma estante qualquer e saímos a procura de um outro mais valioso. E o meu estava a poucos centímetros de mim, conversando com a garçonete (pág. 159)”.
Porque Eu Amei é minha primeira experiência com os livros de Roque Neto, e é difícil encontrar palavras para descrever o estilo de escrita do autor. Ele consegue, com simplicidade, descrever cenas, sentimentos e pessoas, sem que isso se torne cansativo. Tanto que é um livro curto e em poucas horas terminamos as 240 páginas, sem nem ao menos perceber.
Os elogios para a editora também não poderiam faltar, já que além da capa criada por César Oliveira, a diagramação e revisão não deixam a desejar. A Dracaena é uma editora nova e tem tudo para se tornar um grande destaque no mundo editorial. Isso eu digo sem medo.
Além de toda a estória, diagramação, escrita e outros detalhes citados, o livro também conta com o prefácio do autor americano Lev Raphael, que escreveu Colóquio Mortal e A morte também frequenta o paraíso. Neste prefácio, Raphael cita que anos atrás, histórias com a temática abordada em Porque Eu Amei não eram utilizadas, e explica o motivo de se ler livros como este. Além do mais, Raphael se diz orgulhoso de apresentar Roque Neto para a literatura brasileira.
“Thomas fechou a porta do carro com violência. Deu um passo para trás e cruzou os braços. Minha face estava coberta por lágrimas, a dele por ódio (pág. 201)”.
Sem duvidas, Roque tem potencial e sua história é recomendada, sobretudo para aqueles que têm a mente aberta, afinal, como eu disse, Porque Eu Amei é um livro interessante, mas que aborda assuntos polêmicos. Mais do que a sexualidade de um padre, ele retrata as decisões que um homem precisa tomar antes de revelar seus sentimentos, e assuntos que muitos católicos condenam, como o relacionamento de um sacerdote, que segundo os argumentos dos líderes religiosos, deveriam "prestar" o celibato sacerdotal, e não tomar atitudes que possam atrapalhar o passado, futuro e presente não apenas do homem, como também da entidade. E para aqueles que se interessarem, o livro está disponível - com frete grátis - no site oficial da editora Dracaena, que você pode acessar clicando aqui.

Espero que todos tenham entendido a minha visão em relação ao livro, e que com a resenha, despertem o desejo da leitura do mesmo. Aproveito para agradecer ao Roque Neto e a editora Dracaena pelo exemplar cedido para que essa resenha pudesse acontecer, e desejar sucesso para ambos.