Simples, objetivo e com uma mensagem inspiradora sobre sonhos. Chihayafuru, anime baseado na obra de Yuki Suetsugu, tem essa essência e consegue conquistar o espectador com 25 episódios bem elaborados e com uma história leve. Talvez o mais leve anime que já tive a oportunidade de acompanhar.
A obra de Suetsugu estreou na revista Be-Love em 2007 e até então já foi publicado em 15 volumes estendidos. Mais de 4 milhões de cópias já foram vendidas e rendeu diversos prêmios ao autor e ilustrador de Chihayafuru. O sucesso do mangá foi tanto que em 05 de outubro de 2011, estreou na NTV o anime produzido no estúdio Madhouse e dirigido por Morio Asaka. Como já citado, um dos animes mais leves, e talvez um dos melhores da temporada de outono de 2011, que chegou ao fim no último dia 28 de março.
Em Chihayafuru, conhecemos Chihaya Ayase (Asami Seto), mas antes de falar sobre a personagem e a história que a rodeia, é essencial explicar sobre Karuta, um jogo de cartas japonês que é o assunto tratado no mangá/anime. E não pense que não conhecer este jogo é algo absurdo. Karuta é conhecido no Japão, porém é considerado como um jogo infantil e por isso são poucos aqueles que continuam jogando-o. Para melhor resumir esse jogo, dizer que é parecido com o jogo da memória não seria um exagero. Karuta surgiu há muitos séculos atrás e consiste em ter agilidade para encontrar o poema (no total são 100 cartas/poemas, cada um com um significado histórico) lido antes que isto seja feito pelo adversário. Para ter um rendimento melhor, é necessária boa audição e agilidade. Como todo jogo, Karuta possui diversos tipos e dificuldades para facilitar a partida entre pessoas de todas as idades.
Vendo por esse lado, dá a entender que o anime reúne diversas personagens que passam o dia todo jogando algo que não dá futuro algum. Pois é exatamente o contrário. Diferente de outros animes que tem um esporte envolvido – pois Karuta é um esporte com confederações, competições, transmissões na TV e tudo mais -, o jogo não é o único foco. A história envolve também o poder da amizade e da força de vontade.
Chihaya Ayase é uma linda garota, porém já está entrando em sua adolescência e não tem um sonho pessoal definido. Para ela, nada mais importa a não ser ver sua irmã realizando o sonho de ser uma modelo de sucesso. Mas a visão de Chihaya em relação a isso tudo muda quando ela conhece Arata Wayata (Yoshima Hosoka/Yuka Terasaki) e descobre que seu sonho é se tornar um profissional no Karuta. Ela então conhece o jogo, entende a magia por trás das cartas e enfim descobre o que realmente deseja para sua vida.
Por infelicidade do destino, Chihaya e Arata acabam se separando e o tempo causa diversas mudanças na vida desses dois jovens. Mesmo com o tempo, a garota não desiste de seu sonho e para realiza-lo precisava melhorar sua qualidade técnica. Uma das soluções é criar um Clube de Karuta no colégio em que estuda, porém são poucos os japoneses que se interessam por esse jogo e ela encontra apenas quatro membros: Taichi Mashima (Mamoru Miyano/Ayahi Takagaki), um velho amigo de infância; Kanade Ōe (Ai Kayano), uma garota apaixonada pelos clássicos e que entende o verdadeiro significado por trás das cartas; Yusei Nishida (Tōru Nara), conhecido como “porquinho” que chegou a perder o interesse pelo Karuta e que volta a ter essa paixão graças a Chihaya; e Tsutomu Komano (Tsubasa Yonaga), garoto inteligente que não vê nada interessante no jogo, até conhecer Chihaya. Com esses quatro amigos, a garota busca dia após dia a realização de seu grande sonho.
Vendo pela história que envolve o anime, pode-se imaginar que seja chato e até mesmo cansativo e acredito que a maioria das opiniões disse o mesmo. No inicio é difícil encontrar algo que incentive a continuar acompanhando essa história, porém isso muda facilmente, sobretudo quando os episódios passam a mostrar a adolescência de Chihaya – não que ela esteja mais madura. A garota precisa se preocupar com os estudos, mas não consegue deixar de lado o jogo do qual se encantou em sua infância. Ela ainda precisa se esforçar para mostrar que Karuta é um jogo interessante, e que o preconceito não é válido.
Percebemos ao longo dos episódios, que a luta de Chihaya é verdadeira e passamos a entender o significado de um sonho na vida de uma pessoa. Mas não é aquele sonho que se acontecer é legal, se não acontecer não faz nenhuma diferença. Para Chihaya realizar esse sonho é muito importante e ela não mede esforços para isso e quer sempre superar suas deficiências. A personagem não desisti e serve de inspiração.
Por trás da busca destes sonhos, passamos a entender um pouco da história do jogo e detalhes importantes sobre o passado do país asiático. Nesse ponto as demais personagens ganham um destaque maior, sobretudo Kanade, que explica sobre o que envolve alguma das cartas. A história por trás das demais personagens também faz a diferença, deixando o anime ainda mais interessante, afinal, não fica preso apenas na protagonista e também mostra o prazer sentido por todos os jogadores de Karuta.
Além da busca dos sonhos, o poder da amizade, o prazer e o preconceito sentido pelos jogadores de Karuta também é retratado em Chihayafuru, que ainda reserva espaço para um lado cômico e adolescente, tudo com uma simplicidade que faz a diferença. Não há exageros e nem mesmo apelação. A amizade, o amor, o carinho e os sonhos são mostrados para agradar a todos, da maneira mais leve possível.
Desenvolvido por um dos melhores estúdios do Japão, a parte gráfica só merece elogios, como também o diretor Morio Asaka, que já participou de importantes animações como Nana, Sakura Cardcaptor e Devil May Cry. Asaka explorou tudo o que podia, e o que não podia, para deixar o anime com um clima leve e recheado de detalhes, principalmente quando se trata das partidas. Talvez poucos se interessem e muitos ainda achem um anime cansativo, mas por trás disso tudo existe uma história que tem muito a ensinar e por isso merece destaque e a chance de ser assistido.