Foram doze anos. Longos anos que para os torcedores parecia uma eternidade e por mais que tentassem, era difícil descobrir quando o jejum de títulos chegaria ao fim. Um jejum que não se compara ao que aconteceu entre a década de 70 e 90, quando, por mais de quinze anos, a torcida ficou sem comemorar um único título. Com o bicampeonato da Copa do Brasil, conquistado na última quarta-feira (11), a Sociedade Esportiva Palmeiras voltou ao lugar que nenhum torcedor gostaria de ter saído.
A 24ª edição da segunda competição mais importante do nosso futebol teve início no dia 07 de março e contou com a participação de 64 clubes de todos os Estados brasileiros. Pela última vez, a competição não reuniu os clubes brasileiros que disputaram a Libertadores da Américaem 2013 esses clubes entram a partir das oitavas-de-final -, mas contou com os melhores classificados nas competições estaduais em 2011 e os melhores no ranking de cada uma das federações.

A Campanha
O Palmeiras, time comandado pelo experiente Luís Felipe Scolari, iniciou a caminhada rumo ao título contra o vice-campeão alagoano de 2011: o pouco conhecido Coruripe. No primeiro jogo, realizado no Estádio Rei Pelé, em Maceió, o time paulista iniciou de forma arrasadora e ainda nos primeiros minutos abriu o placar com gol do argentino Barcos. Se os torcedores acreditavam que a vitória seria fácil e a classificação para a segunda fase seria garantida ainda na primeira partida, foram surpreendidos com um jogo difícil e com muitos erros do adversário. Após os 90 minutos, o Palmeiras continuou com a vantagem de apenas um gol e foi obrigado a realizar um segundo jogo, dessa vez em São Paulo.
Devido as obras do estádio Palestra Itália, a equipe palmeirense manda seus jogos em outros estádios e a torcida de Jundiaí teve o privilégio de acompanhar o jogo de volta da primeira fase. Ao contrário da primeira partida, os jogadores alviverdes acertaram a pontaria e marcaram três gols, garantindo a vaga para a segunda fase.
Novamente contra um time nordestino, o Palmeiras tinha pela frente o Horizonte, time cearense de apenas 8 anos e que havia eliminado o América-RN na primeira fase. No jogo de ida, na casa do adversário, o Palmeiras tomou o primeiro gol na competição, porém conseguiu empatar e reverter o placar, fazendo três gols e se aproveitando do regulamento, que permite que nas duas primeiras fases, uma vitória fora de casa por 2 gols de diferença elimine o segundo jogo. O time de Felipão estava com a vaga garantida para as oitavas-de-final.
Entre uma partida e outra, o Palmeiras foi eliminado do Campeonato Paulista ainda nas quartas-de-final, o que gerou descontentamento por parte da torcida, que já estava cansada da série de maus resultados. Apesar dos protestos, o time partiu para Curitiba, onde enfrentou o Paraná, que até pouco tempo atrás figurava na primeira divisão nacional, mas que perdeu a força que um dia chegou a ter. Com gols de Marcos Assunção e Henrique, o time paulista venceu por 2 a 1 e voltou para São Paulo precisando de um simples empate para garantir a vaga para a próxima fase. Mas o futuro campeão não jogou se aproveitando do resultado e aplicou sua maior goleada na competição: 4 a 0, com direito a dois gols de Mazinho, apelidado de Messi Black.
Voltando para Curitiba, o Palmeiras enfrentou o Atlético-PR e apesar do empate em dois gols, todos saíram da capital paranaense descontentes com a arbitragem, que teria impedido uma vitória alviverde. O empate fora de casa também era um resultado favorável, mas novamente os comandados de Felipão não se importaram e venceram o Furacão por dois gols, com direito a mais um gol do até então zagueiro, Henrique. O empate e a vitória colocou o time entre os quatro melhores da competição.
Antes dos jogos da semifinal, o chileno Valdívia, maior ídolo do atual elenco, sofreu um sequestro e isso abalou dirigentes e jogadores. Havia a incerteza da permanência do meia, que viajou para seu país sem definir seu futuro e foi descartado do primeiro jogo contra o Grêmio, penúltimo adversário na competição.
O confronto contra o Grêmio sempre gerou confusões dentro e fora de campo e os palmeirenses sabiam que dessa vez não seria diferente. Os gaúchos criaram um clima nada amigável. Com a presença de Kléber e Vanderlei Luxembergo, dois personagens amados e ao mesmo tempo odiados pela torcida alviverde, a vontade de vencer apenas aumentou.
A imprensa e principalmente os adversários davam como certa a vitória gremista, mas o Palmeiras enfrentou o time de igual para igual e Felipão deu um verdadeiro show de esquema tático. A principal mudança foi com o uso do zagueiro Henrique, que atuou como volante e parou o meio-campo adversário. O jogo seguiu sem gols até os 40 minutos do segundo tempo, quando Mazinho e Barcos balançaram as redes e criaram uma grande vantagem para o futuro campeão. A final estava próxima e os comentários eram unânimes: Felipão havia encontrado seu time ideal.
Superando as adversidades, o Palmeiras recebeu o Grêmio em Barueri para mais uma batalha em campo. Foram diversas faltas, confusões e um futebol fraco de ambas as equipes. O gol demorou a sair e foi o time visitante quem abriu o placar, porém a reação alviverde foi imediata e Valdívia – que ainda se recuperava do sequestro – empatou, decidindo a partida e provando porque é o maior ídolo deste elenco campeão. A comemoração foi empolgante, emocionante e no final, já com a vaga garantida, o meia declarou: “a vitória é para minha família”.

Batalha Final
Chegou o primeiro jogo da final e o torcedor, depois de anos, percebeu que o grito de “É campeão” estava prestes a ser ecoado. Era quinta-feira, um dia atípico para uma final de campeonato, mas quem se importa? Era o Palmeiras em uma final e isso já era motivo suficiente para inclusive mudar a programação de um canal de TV aberta.
O torcedor lotou a Arena Barueri para a partida contra o Coritibaque perdeu a decisão para o Vasco em 2011 - e apesar de não jogar no Palestra Itália, se sentiu em casa tamanha a festa. Uma festa incomparável, como toda a história da Sociedade Esportiva Palmeiras. Porém, o time entrou desfalcado de Barcos, que foi operado as pressas, e de Henrique, expulso injustamente na segunda partida contra o Grêmio. Dois desfalques que deixaram o torcedor apreensivo. O medo só aumentou com as constantes falhas dos jogadores do time paulista, que só não saiu perdendo, graças a ajuda da sorte e do goleiro Bruno, que não sentiu o peso da responsabilidade em substituir o ídolo Marcos, aposentado desde o início do ano (Imagem da Semana 53#). O alívio veio após o criticado jogador Betinho sofrer uma falta dentro da área. Com o pênalti marcado, o chileno Valdívia partiu para a cobrança e abriu o placar ainda na primeira etapa. Os últimos 45 minutos foram melhores e o time ainda ampliou a vantagem, com o gol do zagueiro Thiago Heleno. O Coritiba reclamou de um pênalti não marcado em cima de Tcheco e o time paranaense voltou para casa revoltado com a arbitragem.
Pela terceira vez Felipão e a segunda versão da família Scolari – que virou febre com o título mundial da seleção em 2002 - voltou para Curitiba para jogar no Couto Pereira, um verdadeiro caldeirão verde. O time poderia perder por até 1 gol que ainda se tornaria bicampeão da Copa do Brasil, contudo, ao contrário da primeira partida, o time jogou melhor e controlou o adversário. Tomou um gol no início do segundo tempo e empatou logo em seguida, com o atacante e muito criticado Betinho. O título estava garantido de forma invicta, com o melhor ataque (23 gols) e a defesa com o melhor aproveitamento (0,54 gols por jogo).
Nem mesmo na última partida o problema deixou de rondar o Palmeiras. Henrique jogou com 39 de febre. Thiago Heleno sentiu dores ainda no primeiro tempo e precisou ser substituído. E Luan, que entrou no segundo tempo, também sentiu dores e precisou aguentar, já que Felipão havia feito todas as substituições. O jogador aguentou e foi considerado pelo técnico o melhor em campo. O jogador mostrou a raça que todos os torcedores esperam daqueles que vestem o manto sagrado esmeraldino.
Depois de doze anos, o Palmeiras voltou a conquistar um título nacional e ainda se tornou o maior campeão nacional, com 11 títulos (quatro brasileiros, duas Taças Brasil, dois Roberto Gomes Pedrosa, dois títulos da Copa do Brasil e uma Copa dos Campeões). Felipão conquistou o seu quarto título na competição – o segundo com o Palmeiras, que ganhou em 1998 -, provando ser um especialista em mata-mata. O título também garantiu o Palmeiras na Libertadores da América de 2013 e os torcedores avisaram: o gigante acordou!