Meio Rei, Joe Abercrombie, tradução de Alves Calado, 1ª edição, São Paulo-SP:
Arqueiro, 2016, 288 páginas.
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Filho caçula do rei Uthrik, Yarvi nasceu com a mão deformada e sempre foi considerado fraco pela família. Num mundo em que as leis são ditadas por pessoas de braço forte e coração frio, ser incapaz de brandir uma espada ou portar um escudo é o pior defeito de um homem.

Mas o que falta a Yarvi em força física lhe sobra em inteligência. Por isso ele estuda para ser ministro e, pelo resto da vida, curar e aconselhar. Ou pelo menos era o que ele pensava.

Certa noite, o jovem recebe a notícia de que o pai e o irmão mais velho foram assassinados e não lhe resta escolha a não ser assumir o trono. De uma hora para outra, ele precisa endurecer para vingar as duas mortes. E logo sua jornada o lança numa saga de crueldade e amargura, traição e cinismo, em que as decisões de Yarvi determinarão o destino do reino e de todo o povo.
“Pelos deuses, como ele odiava aquela malha! Como odiava Hunnan, o mestre de armas, que durante tantos anos fora seu principal tormento. Como abominava as espadas e os escudos, detestava o campo de treino e desprezava os guerreiros que faziam dali o seu lar! Acima de tudo, como odiava sua própria mão, que não passava de uma piada ruim, uma lembrança de que ele jamais poderia ser um deles” (pág. 21).
Diferente de outros importantes autores da literatura fantástica, que me conquistaram de primeira, Joe Abercrombie levou um pouco mais de tempo para me convencer de que todas as frases de efeito sobre o seu trabalho não eram puro marketing. Por mais que as primeiras experiências com a sua obra não tenham sido de todo ruim, sempre senti falta de um algo mais; algo que me fizesse sentir prazer do princípio ao fim; algo que só foi despertado com a leitura de Meio Rei.

O livro que marca o início da trilogia Mar Despedaçado é o que posso considerar uma obra-prima da literatura fantástica e digo isso porque durante a leitura me senti como se estivesse me aventurando em enredos dos meus autores favoritos. Se em outras oportunidades Abercrombie causou a incomoda sensação de querer que tudo chegasse ao fim o quanto antes, dessa vez aconteceu exatamente o contrário. A falta de tempo para leitura foi o que mais me incomodou, me impedindo de controlar a ansiedade de chegar ao último ponto final.

Se nos livros da trilogia A Primeira Lei o público alvo do autor eram os leitores mais velhos, dessa vez é claro, pela linguagem mais simples e direta (ou até mais contida), que o público é diferente e mais uma vez esse é um fator muito importante. Particularmente passo a considerá-lo como um grande incentivo à leitura, afinal, à sua maneira, o livro consegue reunir particularidades dos jovens, sejam eles do mundo real ou do Mar Despedaçado. Aí está o grande barato, visto que é possível facilmente se identificar com todas as personagens, em especial Yarvi.

Mas esse nunca foi um grande problema da obra do autor. Alguns de seus personagens, mesmo os mais insignificantes, são memoráveis e dessa vez isso não poderia ser diferente. E nesse caso é evidente que mais do que memorável por suas características, as personagens podem receber esse status também pela evolução que passam ao longo de todo o enredo. Yarvi, por exemplo, de um meio rei aleijado e quase insignificante, se transformou em um legítimo guerreiro, de inteligência única e disposto a tudo para alcançar o seu objetivo. E os seus companheiros de jornada não ficam atrás!

E por falar em jornada, vale destacar que essa é de tirar o fôlego. Acontecem várias coisas, e quase todas são cercadas por uma barreira tênue que separa o bem e o mal, o que não significa necessariamente que essa barreira gere heróis e vilões. Muito pelo contrário. O que acontece é que tudo é capaz de causar uma grande surpresa, seja com uma ação ou reação, por isso essa aventura em busca de vingança acaba sendo tão especial. Sem contar toda a mitologia e as particularidades que cercam os povos e seus respectivos costumes, sempre com muita originalidade.

Por mais que as comparações muitas vezes sejam injustas, nesse caso seria impossível, pelo menos para esse que vos escreve, deixar de comparar Meio Rei com os demais livros de Joe Abercrombie. Não para lembrar o que não gostei anteriormente, mas para ressaltar tudo o que me encantou agora e os motivos que me fizeram finalmente colocar o autor no lugar em que ele definitivamente merece: entre os mestres da literatura fantástica.

E que, pelos deuses, as continuações não demorem a sair e sejam tão incríveis quanto!
“Yarvi percebeu que a Morte não faz reverências para cada pessoa que passa por ela, não estende o braço respeitosamente para mostrar o caminho, não diz palavras profundas nem destranca cadeados. A chave em seu peito nunca é necessárias, porque a Última Porta está sempre aberta, não importando o status, a fama ou as virtudes. Há uma fila interminável para passar. Uma procissão cega, inexaurível” (pág. 249).

2 Comentários

  1. Oi Ricardo! Adorei a resenha! Ganhei esse livro de presente de ANIVERSÁRIO e ainda não criei vergonha pra ir lê-lo.
    Te marquei em uma TAG no meu blog - http://leitoraneurotica.blogspot.com.br/2016/08/tag-premio-dardos-indicada.html

    Abraços,

    Paula Nunes

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  2. Olá Ricardo!
    Eu vi este livro na Livraria Cultura na última semana, com meu namorado inclusive. Ele se interessou pelo livro, tanto que até mandei essa resenha para ele.
    Nem preciso dizer que estou com vontade de ler. Gosto de histórias diferentes assim!
    Beijos!

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