Oi, pessoal. Tudo bem? Espero que sim.
Esse é mais um daqueles artigos que vocês lerão e dirão “isso eu já conhecia. Só não sabia que tinha um nome”. Hoje, vamos falar de plot twist.
O plot twist é o ponto de virada de uma narrativa. Quando o personagem adquire algo novo (um novo item, conhece uma pessoa que será importante para a trama ou alguém que ele conhece passa a agir de forma diferente, quando ele chega em um novo lugar, passa a ter um cargo diferente, etc.) ou perde algo que já possui (sua arma descarrega, seu mestre morre, seu melhor amigo passa a ser um vilão, sua casa é destruída, etc.), estamos falando de viradas cruciais na história.
Duro de Matar: a aquisição de uma metralhadora é um bom ponto de virada. |
Exemplificando com “Harry Potter e A Pedra Filosofal”, temos o seguinte conceito:
- Início: Harry mora com os tios e o primo, sem fazer a menor ideia de quem realmente é e de sua importância.
- Até o fim do primeiro ato: Harry estará familiarizado com Hogwarts, vai descobrir que é um bruxo, vai adquirir seus itens, entrar em uma das quatro casas de Hogwarts, entrar para o time de quadribol e já ter derrotado um trasgo;
- Até o fim do segundo ato: Harry descobrirá mais sobre a Pedra Filosofal e sua importância para Voldemort. No meio tempo, ele vai prejudicar a sua casa, que perderá pontos pelo seu mau comportamento;
- Até o fim do terceiro ato: Harry e seus amigos vão impedir que Voldemort consiga a Pedra e Harry irá não só derrotar Voldermort como vai restaurar a pontuação da Grifinória e a fará vencer o torneio das casas.
Viram só? Se dividirmos a narrativa em 3 partes (apresentação, ação e conclusão), temos todos os pontos de virada.
Mas quem disse que uma narrativa só pode ter três pontos de virada, no fim de cada ato?
Se colocarmos Harry Potter novamente em porcentagens, temos:
- 0%: Harry mora com os tios e o primo. Acredita que seus pais morreram em um acidente de trânsito e leva uma vida ruim;
- 10%: Hagrid aparece e revela que seus pais eram bruxos, assim como também há uma vaga para ele em Hogwarts;
- 15%: Harry conhece o Beco Diagonal, compra seus itens (inclusive a varinha “irmã gêmea” da varinha de Voldemort);
- 25%: Harry conhece sua futura sogra, Molly Weasley, seu futuro cunhado, Rony Weasley, bem como a futura esposa de Rony, Hermione Granger, seu inimigo, Draco Malfoy, e é colocado na casa da Grifinória;
- 50%: Harry já está familiarizado com Hogwarts. Derrotou um trasgo, venceu um duelo de quadribol, ganhou sua Capa da Invisibilidade, visita Hagrid e sabe em quem pode confiar;
- 75%: Harry vê o perigo iminente de Voldermort roubar a Pedra Filosofal;
- 90%: Harry descobre quem era o grande vilão;
- 95%: Harry o derrota, acorda no hospital e vê a sua casa vencendo o torneio das casas;
- 100%: Final: Harry, ciente da sua importância, volta para a casa dos tios para passar as férias e voltar à escola no ano seguinte.
Claro que nem todo livro pode ser estruturado desta forma: há alguns que usam menos porcentagens (0%, 25%, 50%, 75% e 100%), outros fazem divisões bem delicadas (ao escrever o meu livro, Cavaleiro Negro, eu o dividi em sete arcos. Cada arco representava uma mudança na vida do personagem. Praticamente, as porcentagens foram 0%, 14%, 28%, 42%, 56%, 70%, 84%, 98% e 100%). Seja como for, é importante definir onde as coisas mudam.
Como fazer isso?
- Faça um resumo do seu livro. Não se importe em quantas páginas vai gastar em todo o processo. Só coloque no papel ou computador a história;
- Feito o resumo, divida-o em três partes, de forma que os cliffhangers levem o leitor a querer saber a continuação de cada trecho (não sabe o que é um cliffhanger? Leia aqui). Com isso, você terá a estrutura clássica de teatro em divisão de três atos;
- Feito isso, veja em que ponto as coisas mudam: quando o personagem principal conhece o par romântico? Quando ele adquire uma arma ou conhecimento que farão a diferença? Quando ele sofre a derrota que irá motivá-lo a se reerguer e vencer o seu inimigo? Ele realmente vai matá-lo ou só vai pedir para ser deixado em paz? E qual o final da história? E o mais importante: dá para o leitor se acostumar com as mudanças?;
- Dentro desse planejamento, comece a dividir as cenas (não sabe o que é uma cena? Leia aqui) Isso faz com que a sua história tenha um planejamento maior (resumo), médio (pontos de virada) e os menores (cena por cena).
Antes de encerrar este artigo (ele já está bem extenso, não acham?), vou dar duas opiniões particulares que vocês podem (ou não) utilizar:
1. Quantos pontos de virada posso colocar na minha narrativa? Muitos ou poucos?
Uma história com poucos pontos de virada fica monótona. E se for extensa, perde a graça ver as coisas acontecendo.
Já uma história com muitos pontos de virada e pouco espaço faz com que o leitor se sinta sufocado. Ele não vai ter tempo a se adequar a todas elas. A solução é fazer com que ela seja longa. E nesse caso, você vai ter que criar algo maior que “O Conde de Monte Cristo”.
Naruto: seu excesso de plot twists gerou uma narrativa muito longa que também ficou enfadonha de acompanhar |
O conto é um gênero narrativo curto. Então é preciso ponderar sobre apresentação do personagem com definição dos seus backgrounds (não sabe o que é isso? Leia aqui), apresentar apenas UM problema e mostrar o resultado de suas ações para detê-lo. Uma analogia simples para o leitor poder entender como funciona: os plot twists de um romance são a vida de um estudante de Medicina na faculdade. O conto é ele já formado fazendo uma cirurgia em algum paciente.
Por enquanto é “só”. Espero que tenham gostado e postem suas dúvidas nos comentários.
Obrigado a todos(as) e continuem escrevendo!
Sobre o Autor
Contato: davi_paiv@hotmail.com. |
Olá Davi.
ResponderExcluirNão, dessa vez sei o que é o que foi dito nesse artigo. E claro, uso e muito deste recurso, acho que todos nó autores sim.
Até faço alguns resumos para me atentar aos pontos importantes da história, mas cena por cena nunca fiz e provavelmente nem teria paciência. haha
Amei o artigo!
Beijos!
Oi, Ane-chan!
ExcluirQue bom saber que você está afiada nos estudos.
Enfim, cada um escolhe o método que melhor lhe convém. E fico contente em saber que encontrou o seu.
Espero que o próximo artigo lhe surpreenda.
Abraços.