Eu não vou me esquecer, do que passei junto a você,
A sua presença ainda está aqui.
Eu não vou me esquecer, das coisas que um dia fiz,
Do tempo em que você estava aqui.
Do tempo em que você estava aqui – Seppia Rock

Quando te vejo o tempo para e me recordo de todos os capítulos de nossa história!

De tudo o que planejei ao sair de casa para mais um dia de trabalho, vê-la era uma coisa que não se passava por minha cabeça e isso é o reflexo de como a sua ausência me fez perder a esperança, não apenas de viver um grande amor, como de reencontrar a felicidade em outro alguém.

A minha reação após esse momento é a maior prova de que superá-la é para mim uma missão difícil. Para não dizer impossível. Não se passou um único dia, desde que disse adeus, que não me peguei pensando na doçura de sua voz ou sentindo a necessidade de me expressar através de palavras. Dia após dia, versos simples de angústia e sofrimento permearam a minha rotina, como se esse fosse o meu ponto de fuga; a minha forma de aliviar a tristeza de estar longe de quem me ensinou o verdadeiro significado da palavra amor.

Mas pela primeira vez em todos esses meses, desde que me percebi apaixonado, me pergunto até que ponto a paixão realmente me transformou em um novo homem. Não! Não quero que pense que tudo o que disse até hoje não passou de mentiras. Pelo contrário; não tenho dúvida alguma de que o amor que sinto por você é intenso e verdadeiro. O que não sei mais dizer é se este sentimento, despertado na primeira vez em que te vi, me transformou em outra pessoa ou simplesmente reforçou o quanto sou fraco perante os meus sentimentos.

Tão fraco que a única coisa que gostaria neste instante era viver em um universo paralelo, em que não criaria novos planos para o fim do expediente e com isso evitaria encontrá-la na esquina da rua mais importante da cidade. Afinal, apenas se alguém estivesse dentro de meu corpo, e sentisse por você os meus mesmos sentimentos, poderia compreender a sensação de tristeza que sinto ao encarar os seus olhos e perceber o corpo fraquejar ao estar próximo de você.

Tudo acontece quando chego à esquina, caminhando em direção à praça central, e você para o seu carro na minha frente, vindo pela rua perpendicular. Levo um susto que há tempos desconhecia. Em outros momentos o susto seria pela rapidez da situação; ora, mais alguns segundos e seria atropelado devido a pressa de chegar ao meu destino. O verdadeiro susto, porém, é vê-la e ter a sensação de que os ponteiros do relógio param no exato momento em que os nossos olhos se encontram.

Ao mesmo tempo em que é rápido, também é tudo muito intenso, como a nossa história. Ou o que deveria ser a nossa história. E isso basta para me pegar mais uma vez me imaginando ao seu lado. Ou me pegar relembrando os poucos, porém inesquecíveis dias, em que estive perto de você.

Apenas por esses instantes em que o tempo para, me lembro de quando procurei abrigo em seus braços e como isso serviu de remédio para as dores que se tornaram parte do meu ser. Me lembro dos dias ao seu lado: o fim de tarde em que espalhei pela cidade pistas de uma caça ao tesouro, encerrada com uma garrafa de vinho que dividimos sob a luz do luar; do filme que assistimos juntos em sua casa, onde fiquei inebriado por seu perfume espalhado por todo o cômodo; ou quando a acompanhei em uma sessão de cinema em que derramou um rio de lágrimas ao fim de um filme triste e meloso, que poderia muito bem ser o filme da nossa própria história.

E enquanto lembro do passado, eternizado nas páginas escritas pelos traços desajeitados do destino, penso nos planos que deixaram de ser realizados quando você partiu, prometendo nunca mais voltar, e afirmando que fui a sua maior decepção. Seja lá o motivo que a fez ser tão rude em suas palavras, jamais me esqueceria dos planos de ajudá-la a realizar seus sonhos ou de estar ao seu lado, comemorando as conquistas que certamente farão parte dos seus dias.

Mas antes que os pensamentos se percam no desejo de dizer o seu nome e implorar que pare o carro para uma breve, porém necessária conversa, ouço o tom melodioso de sua voz doce e encantadora. Entretanto, a simplicidade da palavra que sai de sua boca é como um balde de água fria jogado sobre o meu corpo para me fazer voltar à realidade:

— Oi!

— Oi… Tudo bem?

E sem ao menos me responder, você acelera e dobra a esquina, causando em mim uma sensação jamais sentida. Talvez por isso seja indescritível, mesmo para alguém que faz das palavras o seu maior ofício. É assim, com o corpo gelado, o coração acelerado e as mãos tremendo, que sigo reto, sem olhar para trás e carregando uma sacola e um livro qualquer em mãos. Ainda assim, permaneço com os mesmos sentimentos dentro do peito.

Só consigo pensar que mais uma vez você passou por mim e voltou a partir, sem ter ciência de como a sua ausência é capaz de estilhaçar o meu peito; sem ter noção de que apesar de seus desejos de se manter afastada, a sua presença ainda está aqui.

E enquanto eu viver, a sua presença ainda estará aqui.

Deixe um comentário