Olá, leitores do Over Shock, estava meio sumido, mas retorno com uma série de entrevistas com autores da cena geek. O convidado desse mês é Gilson Luis da Cunha:

Quem é Gilson Luis da Cunha?
Sou biólogo, porto-alegrense, 51 anos, professor universitário e pesquisador, aficionado por ficção científica e fantasia em suas mais diversas mídias e vertentes.

Quais suas principais obras publicadas?
Até o momento tenho apenas contos em antologias. Terminei meu primeiro romance dois anos atrás e estou em busca de uma editora. Meus dois primeiros contos, Destino? e “O Conquistador, foram publicados na antologia Escreva-se, da Editora da UFRGS, em 1987. Por causa da carreira acadêmica, acabei ficando sem escrever ficção até 2012, quando resolvi recomeçar. Atualmente, tenho A Mulher que chora, em Mundos Volume 4, Editora Buriti (2015) e Depois que eles partiram, em Kaijus – Monstros Gigantes (2015). Tive contos selecionados para antologias que foram canceladas por problemas internos de algumas editoras. Por causa disso, resolvi investir também na auto-publicação via Loja Kindle da Amazon, onde publiquei As Bodas de Mugh, As Desventuras Funerárias de Nelson M. e Junior, um conto Tupinipunk. Tenho também alguns contos e uma noveleta publicados no Wattpad.

De onde veio a inspiração para Kaijus – Monstros Gigantes?
Sempre amei os tokusatsu (filmes de monstros japoneses). Quando soube que haveria uma antologia kaiju, pensei em homenagear esses filmes e séries de minha infância (Godzilla, Mothra, Ulraman, entre outros). Mas pensei: “Ok vai ter um monte de gente mandando histórias épicas, de horror ou aventura. Tenho que ir na contramão. Vou pensar em algo engraçado. Uma coisa que sempre me fascinou foi tentar entender como é que os japoneses, e a prefeitura de Tóquio em particular, conseguiam lidar com os estragos caudados pelos monstros. No caso do Ultraman a coisa era feia. Toda a semana uma boa parte da cidade precisava ser reconstruída. Fiquei imaginando como seria se essas coisas acontecessem no Brasil. Há vezes em que nosso país parece mais fictício do que a Tóquio dos filmes de monstro. Então, resolvi misturar o sushi com a feijoada e levar um pouco da nossa loucura cotidiana para a terra do sol nascente.

Quais seus próximos projetos?
Estou esperando o resultado de um concurso de contos de uma editora que desenvolve um projeto muito legal na área de fantasia e ficção científica. Por uma questão de regras do edital, não posso comentar mais do que isso. Também estou esperando o resultado da leitura de um romance inédito, uma comédia dramática de ficção científica, com os dois pés no humor histórico e, do qual, já tenho capítulos prontos para duas sequências e um prelúdio.
Também estou trabalhando em duas noveletas. Uma é sobre um passado alternativo no qual a uma mudança ecológica levou ao nascimento de uma nova nação na América do Sul. A outra é sobre uma Comic Con do futuro da qual participam convidados inacreditáveis pelos padrões do mundo atual,e de como a presença desses convidados coloca a vida de fãs e organizadores de cabeça para baixo.

Para você, qual deveria ser o papel do Estado no fomento da cultura no país?
Se não atrapalhar, já está de bom tamanho. Claro, todo mundo adoraria ter projetos auxiliados pelo estado. Mas as distorções que temos visto nos últimos anos são desanimadoras. Talvez, mais do que um fomento direto a livros, filmes, peças, etc, o estado devesse agir como um facilitador, removendo a carga de impostos e burocracia sobre produtos e iniciativas culturais. Por exemplo, não consigo entender por que igrejas são livres de impostos e editoras não.

Sobre a efervescência literária atual, qual sua opinião?
Estamos vivendo a era dos milagres, literalmente. Décadas atrás, num de seus editoriais para a revista que leva seu nome, Isaac Asimov disse: “Se você lê ficção científica o bastante para dizer “não gostei desse final. Eu teria feito diferente”, então deve tentar escrever. Esse foi meu ponto de partida para a escrita. Mas era uma tarefa ingrata. Escrever à mão, reescrever, datilografar. O advento do PC (Computador pessoal, nenhuma conotação política aqui!) mudou tudo. Você podia escrever e reescrever sem gerar pilhas de papel inútil e frustração. Bom, da frustração a gente nunca se livra. Os primeiros editores de texto eram de doer. Felizmente, os anos 90 mudaram tudo outra vez e editores de texto versáteis e simples surgiram para facilitar a vida. Com a internet e a possibilidade de pesquisar sobre uma infinidade de assuntos e mais, de formar comunidades, a coisa deslanchou de vez. Surgiram as fanfics. E praticamente qualquer um podia re-imaginar seus universos favoritos sob uma ótica pessoal. Hoje, outro fator tem ajudado nesse boom literário foi a vitória da cultura Pop. Os Nerds ou Geeks, não se escondem mais em guetos literários. Eles recitam sua linhagem com orgulho. Seguem Verne, Wells, Tolkien, Douglas Adams, Arthur C. Clarke, Ursula K. LeGuin, George R.R. Martin, etc., sem vergonha de dizer: “Esses são os autores que me influenciaram”. O desafio agora, em minha modesta opinião, é pegar todas essas influências e torná-las pessoais, dar a voz e o ritmo de cada autor ao conjunto de todas as experiências que eles tiveram como leitores.


Sobre o Entrevistador
Mauricio R B Campos nasceu em São Paulo, em 1977. Com formação em Administração, trabalha no mercado financeiro. É casado e está radicado em São Carlos (SP) desde 2008.
Publicou contos em diversas antologias, dos mais variados gêneros literários, tanto em formato tradicional quanto e-book, das editoras Komedi, Andross, Aped, Ixtlan, Illuminare, Multifoco, Navras Digital, Babelcube Inc., Darda e Buriti.
Como roteirista participou da antologia de HQ "O Rei de Amarelo em Quadrinhos".
Mantém um Website, uma conta no Twitter, Facebook e mais outras tantas redes sociais que não dá conta de verificar, atualizar, postar e compartilhar.

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