- O Assassino do rosto deformado - 
Dizem que o momento mais importante na vida de uma pessoa é a infância, afinal, nos primeiros anos de vida, que a pessoa vai aprender o que é certo ou errado. Vai aprender a ser educado para seguir os princípios do homem. Se divertir, e ver que a vida pode ser um pouco mais simples, caso saiba aproveitar todos os momentos. E o principal: vai receber carinho, para jamais se sentir sozinho. Foi assim a infância de Rafael, morador da cidade de Santa Clara de Assis.
Rafael, hoje com 24 anos, cresceu em uma família que raramente se encontra nos dias de hoje. A família de seu pai se reunia todas as semanas, não só para colocar o papo em dia, mas também para seguir o que os bisavôs de Rafael sempre diziam: família reunida, jamais será vencida. Já a família de sua mãe, apesar de não ser totalmente unida, também esteve sempre presente na vida de Rafael. Todos seus primos cresceram juntos, recebendo carinho e compreensão de todos os tios, mesmo que esses tios, muitas vezes não se encontrassem, por falta de tempo. Ele sempre imaginou como seria uma família que tivesse a união da parte de seu pai, e a compreensão que tinha por parte de mãe. Essa junção, ele acreditava, ser perfeita.
Na escola, Rafael era um garoto muito inteligente e decidido. Estudou desde sempre, pois tinha o objetivo de ser médico, e sabia que este sonho não seria fácil. Além de ser bastante estudioso, ele também era o garoto mais bonito da escola, o que atraía muitas garotas, mas ele só tinha olhos para Bianca, sua primeira e única namorada. Nunca esteve sozinho, até por que, quem deixaria a pessoa mais bonita sozinha?
Mas o destino já havia preparado algo para a vida de Rafael, e isso aconteceu quando ele tinha 16 anos, antes mesmo de se formar. Ele, seus pais, e seus avôs paternos estavam viajando para passar alguns dias no litoral, mas antes mesmo de descerem a serra, um caminhão acertou o carro onde estavam. Todos morreram, menos Rafael.
Além de perder as quatro pessoas que mais amava, também perdeu uma de suas principais características: a beleza. Aquele adolescente lindo, até então desejado por todas garotas – e por alguns garotos também – ficou com o rosto totalmente deformado, resultado de um corte profundo sofrido durante o acidente. Perdeu também a namorada, que terminou o relacionamento pois não queria um namorado que deixasse todos com medo. Na verdade, ela não o amava, e devido a isso, ele prometeu nunca mais se relacionar como ninguém. Naquele momento, a vida de Rafael começou a mudar. Para pior.

Três meses depois, os médicos disseram que ele já estava recuperado do acidente, e enfim deram alta para Rafael. Antes não tivessem feito isso. O garoto estava sozinho no mundo, abandonado inclusive pelos seus familiares, que achavam que ele era o principal responsável pelas mortes. Familiares estes,  que até então ele amava. Precisava começar trabalhar, para poder se sustentar, e ainda tinha a escola. Antes de conseguir arrumar um emprego, ele decidiu que iria voltar a estudar, afinal, lá poderia encontrar ajuda não só de seus amigos, como também dos diretores da escola.
Ao entrar na escola, parecia que o mundo havia parado. Todos olharam na direção daquele garoto, agora totalmente estranho, que adentrava pelo portão principal da escola. Ele ainda tentou mostrar que era o mesmo Rafael, que estava mais feio, mas continuava o bom garoto que sempre foi, mas ninguém acreditou. Quem acreditaria em um monstro?
O pior para Rafael foi seus melhores amigos também debocharem de sua nova face, mas ele tentou não se abalar, até por que tudo era novo não só para ele, como para todas as pessoas. Por ser uma boa pessoa, ele acreditou aque seus amigos precisavam de um tempo para entender o que ele estava passando. O primeiro dia terminou, e Rafael foi embora sem conversar com ninguém, algo que jamais aconteceu com aquele garoto que até então, era o mais popular.
Ainda naquele dia encontrou um emprego em uma quitanda. O dono do estabelecimento era amigo da família, e disse que não poderia arrumar para ele ficar no caixa, ou de entregador, pois a necessidade estava na hora de descarregar as mercadorias que chegavam. Ele não poderia recusar, por ser um garoto forte, e principalmente por estar em um momento difícil.
Os primeiros dias sozinho foram difíceis para Rafael. Era tudo novo para ele, que agora precisaria se virar para fazer tudo. Se saiu bem. Acordava cedo, ia para a escola e na parte da tarde trabalhava. Continuou sem os amigos e os familiares. Continuou sozinho.
Certo dia, no seu emprego, ele precisou descarregar um caminhão no horário de maior movimento na quitanda, se mostrando para todas as pessoas que ali estavam. Antes não tivesse feito, já que uma garotinha que estava ali com a mãe se assustou ao ver aquele jovem adolescente, com o nariz torto, cheio de cicatrizes no rosto, e os lábios caídos. Seu patrão, apesar de ter ajudado Rafael desde o começo, falou que não seria mais possível ele trabalhar ali. O homem estava com medo de perder clientes por causa de Rafael.
A vida de Rafael não parava de piorar, e menos de uma semana depois a escola foi o palco para mais uma humilhação, dessa vez por parte das pessoas que ele menos esperava: os próprios diretores. Ao ir tirar satisfação com um aluno que estava lhe caçoando, Rafael acabou agredindo seu colega, e ambos foram para a sala da diretora. Esta, ao invés de entender o que estava acontecendo, e ao menos repreender ambos, foi injusta, deixando apenas Rafael na enrascada. E isso continuou com vizinhos, desconhecidos, autoridades, enfim. Não havia uma única pessoa que respeitava Rafael, e aquilo transformou o jovem, que decidiu que iria se vingar de todos que o desrespeitarem, independente de quem fosse.

Antes de completar 18 anos, aquele garoto, que sempre foi carinhoso, atencioso, responsável e principalmente adorado, cometeu seu primeiro crime: assassinou o dono da quitanda. O senhor de pouco mais de 50 anos, foi encontrado morto dentro da quitanda, com o rosto deformado, o que se tornaria a marca registrada de Rafael, já que este não seria o primeiro crime. Um bilhete também fora deixado pelo assassino, dizendo: “Foi morto pelo que fez para mim”!
Ainda naquela semana, assassinou mais duas pessoas. A primeira delas foi Bianca, sua ex-namorada, que exemplo de Rafael antes do acidente, era a pessoa mais bela daquela cidade. Seus cabelos negros enrolavam facilmente, e isso combinava com o seu rosto. Seus seios considerados perfeitos e desejados por todas as garotas, realçavam a beleza daquela adolescente, que tinha tudo para mais tarde ser considerada a mulher mais bonita da cidade. Os olhos pareciam duas das mais belas jabuticabas, enquanto os lábios carnudos eram desejados por todos os garotos. Não havia uma única pessoa que não olhava para as pernas, que muitas vezes estavam vestidas com uma calça justa, que aumentava. Enquanto suas delicadas mãos pareciam uma flor, mas agora nada disso existia. Rafael, não só desfigurou o rosto de Bianca, como também decapitou uma das pernas, e fez um corte nos seios. Não era mais agradável olhar para aquela garota. O bilhete era o mesmo que deixara para o dono da quitanda.
Mais tarde, naquele mesmo dia, assassinou a diretora da escola, novamente deixando o rosto da mulher totalmente deformado, e o bilhete também se repetira. Assim continuou durante os próximos 5 anos. Foram mais de vinte pessoas assassinadas por Rafael. Sempre que alguém lhe ofendia, ele cometia o mesmo crime. Ficou conhecido como o ‘assassino do rosto deformado’, e mesmo sendo o único com a face dessa forma, ninguém nunca desconfiou, afinal, quem desconfiaria da pessoa mais perfeita da cidade?
Ao completar 24 anos, Rafael foi finalmente descoberto pelo maior detetive do país. Foi preso e condenado a mais de 300 anos de prisão. Nos exames médicos, foi diagnosticado com psicopatia. Era o primeiro psicopata da cidade de Santa Clara de Assis. Era o assassino do rosto deformado.

Ricardo Biazotto (@ricbiazotto)
Esta história é fictícia. Qualquer semelhança com fatos reais é mera coincidência. Caso use este conto, dê os devidos créditos.

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