Ela canta, pobre ceifeira
Ela canta, pobre ceifeira,
Julgando-se feliz talvez;
Canta, e ceifa, e a sua voz, cheia
De alegre e anônima viuvez,
Ondula como um canto de ave
No ar limpo como um limiar,
E há curvas no enredo suave
Do som que ela tem a cantar.
Ouvi-la alegra e entristece,
Na sua voz há o campo e a lida,
E canta como se tivesse
Mais razões pra cantar que a vida.
Ah, canta, canta sem razão !
O que em mim sente 'stá pensando.
Derrama no meu coração a tua incerta voz ondeando !
Ah, poder ser tu, sendo eu !
Ter a tua alegre inconsciência,
E a consciência disso ! Ó céu !
Ó campo ! Ó canção ! A ciência
Pesa tanto e a vida é tão breve !
Entrai por mim dentro ! Tornai
Minha alma a vossa sombra leve !
Depois, levando-me, passai!
Fernando Pessoa
Um dos maiores poetas da língua portuguesa faria hoje 123 anos. Fernando Antônio Nogueira Pessoa, mas conhecido apenas como Fernando Pessoa, ou ainda Alberto Caeiro, Ricardo Reis e até mesmo como Álvaro de Campos. Português, Pessoa viveu boa parte de sua vida na África do Sul, onde aprendeu a língua inglesa, e foi nessa língua que públicou 3 de seus quatros livros (publicados em vida). Como dizia meu último professor de Língua Portuguesa, uma das características de Pessoa era a facilidade que tinha em se desdobrar em outras personalidades. Os famosos heterônimos: Alberto Caeiro, o primeiro deles, acreditava somente no que percebia através dos sentidos. Ricardo Reis, defendia a monarquia, era um estudioso da cutura clássica, além de acreditar que devemos viver a vida serenamente. Álvaro de Campos, poeta futurista que exaltava a vida moderna. O melhor para alguns, o pior para outros, mas sem dúvidas, Fernando Pessoa marcou seu nome na literatura portuguesa, e jamais será esquecido. Já "Ela canta, pobre ceifeita", curiosamente, ao ler na manhã de hoje, foi citado em um capítulo do livro que estou lendo. Era como se Pessoa estivesse falando para mim: "Poste" e eu não poderia recusar um pedido do mestre não é mesmo?
Ah que dera eu fosse imortal como Pessoa...não é toda pessoa que consegue chegar aos 123 cheio de 'vida' através de suas poesias... não é qualquer pessoa que viver depois de já não estar mais presente.
ResponderExcluirImortal!
Mas infelizmente são poucos os que serão lembrado como Pessoa, mas ele merece não é mesmo Mila?
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