Prazer e Amor

  
O Amante, Marguerite Duras, Rio de Janeiro: O Globo; São Paulo: Folha de São Paulo, 2003, 95 pág. (traduzido por Aulyde Soares Rodrigues)

“L’amant” é uma história de Marguerite Duras (pseudônimo de Marguerite Donnadieu) que além de escritora foi diretora de filmes, nasceu em 1914 na Indochina Francesa (atual Vietnã), tem entre suas obras títulos como “A Dor”, “O Amante da China do Norte” e “O Deslumbramento”, etc. Suas obras já foram traduzidas para muitos países e algumas delas já tiveram adaptações cinematográficas.
 “O Amante”, por ser uma narrativa psicológica e intensamente fragmentada torna-se uma leitura difícil, que exige um leitor atento às inúmeras mudanças. Ademais, trata-se de uma leitura cujo narrador por vezes está em primeira pessoa e outras vezes em terceira, entremeado a isso temos uma história cheia de saltos temporais: ora está no presente e ora no passado.
Marguerite Duras faz a reconstituição de muitas imagens a partir de suas descrições e ênfases das mesmas, que estão presentes em todo o livro. A obra é uma verdadeira enxurrada de pensamentos, alusão, muitos detalhes e cores.
Enquanto ao enredo, temos uma Garota que mantêm uma relação sexual com um Chinês e essa relação é narrada com detalhes tão profundos que são quase palpáveis as sensações, os sentimentos. Nesse ínterim, o leitor é apresentado, através de lapsos e jogos psicológicos fragmentados, à vida da garota: como foi sua infância, quais seus desejos, quais seus sonhos, medos, angústicas, enfim: retrata uma vida real, de alguém com sofrimentos e mágoas reais e não oníricas.
“O Amante” apesar da complexidade, não é uma leitura cansativa – até porque é curta: 95 páginas apenas –, mas sim, uma leitura prazerosa. Não obstante, reitero que exige um leitor atento e ao mesmo tempo sensível.
Em suma “O Amante” está longe de ser um livro cujas cenas são apenas fortes, detalhadas e eróticas, mas trata-se de uma obra que exige sensibilidade do leitor, para que este perceba que A Garota projeta suas desilusões, alegrias e angústias na presença do amante, quando esta não consegue entregar-se totalmente ao amor, mas se vê avassaladoramente comandada pelos desejos e a paixão intensa que controla seu corpo.


Eu lhe pedira que fizesse outra e outra vez. Que me fizesse aquilo. E ele o fizera. Fizera-o em meio à untuosidade do sangue. E isso na verdade foi como morrer. E foi como morrer disso.” (p.38)

Eu observava o que ele fazia comigo, como se servia de mim, e jamais imaginei que isso fosse possível, estava além de minhas esperanças e ia ao encontro da sina do meu corpo.” (p.82)


[por: Camila Márcia]

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