- A mediunidade de Bárbara -

- Que desenho lindo que você está fazendo Babi – perguntou o senhor sentado ao lado da pequena Bárbara, uma garotinha de apenas cinco anos.
- É o papai, a mamãe e eu.
- Você desenha muito bem sabia?
- Obrigado vovô. A tia Ana pediu pra desenhar o que eu mais amo.
- E você ama a família? – ele perguntou ansioso para ouvir um sim de sua pequena neta.
- Amo muito – ela prolongou a última palavra por segundos, para tentar demonstrar que seu amor pela família era gigantesco – a mamãe disse que a família é mais preciosa do qualquer pedra rara do mundo.
- Essa minha filha não muda mesmo. Por isso que eu ainda a amo.  – o senhor, com seus mais de 80 anos, sorriu alegremente, mas sua neta pareceu não ouvir o que ele tinha dito:
- Agora é a vez de desenhar o vovô.
- Não minha garotinha, antes o vovô quer te contar uma historinha sobre a sua mãe. Vem cá, senta aqui no meu colo.
Como qualquer outra criança, Bárbara adorava histórias, entretanto seu avô jamais havia dedicado algum tempo para satisfazer essa gosto da menina. Ambos sentiam muita falta da relação de avô e neta que eles não levavam diariamente. Se pudessem, os dois mudariam essa situação, mas não queriam pensar nisso naquele momento. Iriam aproveitar por estarem sozinhos e compartilhariam as mais belas histórias que tinham a contar.
Babi, toda feliz por ouvir a história que seu avô tinha para lhe contar, correu até a cadeira em que ele estava sentado e se sentou no colo do avô. Ele, sempre muito atencioso, passou a acariciar a menina enquanto contava uma história que havia marcado a sua vida.
* * *
A noite já começava a cair quando o celular de Marcelo tocou. Era sua noiva, Andrea. Ele já sabia o assunto que ela trataria. Sem dúvidas era o resultado do exame que havia feito. Ansioso e esperançoso, ele atendeu rapidamente o aparelho. Antes que Marcelo dissesse alguma coisa, ela gritou emocionada do outro lado da linha:
- Amor, você não vai acreditar. Eu estou grávida meu amor. Grávida. Vamos ter um bebê.
- Eu vou ser papai? É isso minha vida?
- Sim amor, é isso. Estou indo para o hospital contar para o meu pai. Tenho certeza que ele vai ficar feliz. Ele sempre sonhou em ter um netinho. Teria como você vir comigo Marcelo? Quero contar essa grande novidade ao seu lado.
Sem pensar duas vezes, o jovem Marcelo aceitou o convite, se despediu de sua noiva e partiu para um dos hospitais particulares da cidade. Quando chegou a entrada do grande prédio, viu Andrea lhe esperando com um grande sorriso estampado em seu rosto. Os dois correram para um encontro que terminou com o mais apertado dos abraços.
De mãos dadas, o casal enfim entrou no hospital e lá dentro estava a mãe de Andrea, que tentando não assusta-la disse:
- Minha filha, seu pai quer muito falar com você.
Marcelo e Andrea não eram nem um pouco ingênuos e sabiam que isso significava uma única coisa: a vida do pai de Andrea estava chegando ao fim.
Aquilo foi um choque para o casal. Até a noite anterior, o progenitor da família estava bem e feliz, apesar de estar em uma cama de hospital. Estava forte, aguardando a alta que receberia em alguns dias. Se ele queria vê-la, era porque havia piorado. Andrea tinha consciência disso, mas tentou ser forte principalmente ao lado de sua mãe e de seu pai, que se realmente estivesse ruim, ficaria ainda pior por vê-la triste. Toda a felicidade de saber que seria mãe havia acabado instantaneamente. Já Marcelo, não sabia o que fazer para acalmar a sua noiva. Apenas a abraçou fortemente enquanto ambos subiam as escadas em direção ao andar que Antônio, o progenitor da família, estava internado.
Marcelo era estudante de medicina, e ao entrar no quarto percebeu quando olhou um dos aparelhos ao lado do leito, que os minutos de Antônio realmente estavam chegando ao fim. Seu coração batia lentamente. Sua febre estava alta. Respirava com a ajuda de aparelhos.
“Talvez ele esteja esperando apenas para falar com a filha” – Marcelo pensou.
Ao se aproximar do leito onde seu pai estava, Andrea não sabia o que dizer. Esperava vê-lo bem como na noite anterior. Apenas algumas palavras saíram de sua boca:
- Oi pai, tudo bem?
Antônio mal conseguia falar, mas respondeu com dificuldades:
- Oi fi...
Marcelo fez o mesmo, enquanto usava de suas habilidades médicas para cuidar dos últimos momentos de seu sogro:
- Boa noite seu Antônio. – sabia o que impediu que seu sogro falecesse e então disse - Eu e sua filha viemos lhe dar uma notícia que eu acho que o senhor estava esperando e que vai gostar muito.
- É mesmo papai. Acabei de saber que eu estou grávida. Você vai ser vovô.
Antônio estava fraco, mas ainda assim conseguiu sorrir. O senhor, quase sem vida, percebeu que a senhora morte estava lhe esperando, mas não poderia deixa-la leva-lo antes que dissesse suas últimas palavras a sua filha, que mal conseguiam entender.
- Me..na...Bár...ra.
Quanto mais o senhor dizia, menos o casal lhe entendia. Antônio, que apesar de estar morrendo, estava lúcido, achou melhor dizer as sílabas que não haviam saído antes.
-...ni...ba...
E tentou novamente:
- Me..na...Bár...ra
- ...ni...ba...
-Menina Bárbara? – enfim Marcelo entendeu – Se for menina o senhor quer que chame Bárbara?
Antônio sorriu, satisfeito por terem entendido sua última palavra em vida.
O estudante de medicina se aproximou novamente de sua noiva, a abraçou e sussurrou em seu ouvido:
- Amor, eu sei que é difícil, mas se despeça de seu pai. Ele quer seguir em frente em uma nova vida perto de Deus.
Ouvir aquilo fez com que os olhos de Andrea enchessem de lágrimas, mas sem deixa-las cair ela disse:
- Pai, me desculpa por tudo. Desculpa-me se eu te magoei. Se fui grossa com o senhor. Se não fui a filha que o senhor sempre sonhou. Me desculpa por tudo pai, mas tenha a certeza de que você é o melhor pai do mundo e eu me orgulho muito por ter feito parte de sua vida. Esse bebezinho que está nascendo aqui – ela colocou a mão já inchada de seu pai em sua barriga antes de prosseguir – vai ser a criança mais amada do mundo. Marcelo e eu faremos tudo que o senhor faria se tivesse em vida. Você já encerrou seu ciclo meu pai, agora é hora de seguir para a casa de Nosso Senhor Jesus Cristo. Eu te amo meu pai – ela beijou a testa de seu pai pela última vez antes que o aparelho que controlava o coração de Antônio passasse a apitar, indicando que aquele senhor que fora tão amado em vida, já estava mais presente.
A alma de Antônio já estava em um lugar lindo, onde não havia sofrimento, não havia dor, não havia guerra. Já estava em um lugar distante de sua família, mas perto da perfeição do Universo.
* * *
- Agora que te contei essa historinha você pode me desenhar. Vai lá na sua cadeira que eu vou fazer uma pose bem legal pra você – ele beijou sua neta e a colocou no chão, indo para um dos cantos daquela sala.
Babi, enquanto olhava para o seu avô fazendo as mais engraçadas caretas, gargalhava e aos poucos desenhava os primeiros traços do que deveria ser a imagem de seu querido avô.
A garota era muito jovem, mas conseguiu transmitir para o papel tudo o que via em seu avô, principalmente o velho chapéu coppola e a bengala de madeira que ele não largava de jeito nenhum. Em menos de meia hora o desenho estava pronto. Quando a menina olhou para o lugar onde o avô estava parado, viu apenas seu pai se aproximando. Marcelo logo perguntou:
- Já terminou a lição do parque minha filha? Você tem que tomar banho antes que a mamãe chegue.
- Terminei papai.
- Então guarda suas coisas e vamos tomar um banho que tem uma garotinha que tá toda suja de gauche – ele disse carinhosamente.

Andrea chegou em sua casa e como de costume foi ver se a lição de sua filha estava pronta e ao olhar o desenho se assustou. Não era nítido, porém era como se Andrea estivesse olhando para seu pai. Ela correu até o quarto, onde Marcelo penteava o cabelo da garotinha. Apesar de ser um bom pai, aquela cena não era comum, porém o espanto de ver aquele desenho impediu que ela estranhasse tudo o que estava acontecendo. Andrea logo perguntou:
- Filha, que desenho é esse?
- O que eu mais amo – ela respondeu, sem entender o espanto de sua mãe.
- E quem são esses?
Apontando para cada um Babi respondeu:
- Esse é o papai, a mamãe, eu e o vovô Nico.
- Vovô Nico? – ela perguntou espantada.
- Sim mamãe. O vovô contou uma história pra mim e depois deixou eu desenha-lo.
- Ele fez isso?
- Sim mamãe. Ele disse que meu desenho estava muito bonito e que ele escolheu o meu nome.
- Exatamente minha filha, o vovô que escolheu seu nome. Agora você fica sentada aqui na cama que eu vou conversar com o papai, tá bom?
A garota apenas assentiu, enquanto olhava para o desenho que estava em sua mão.
Pai e mãe saíram do quarto para conversar. Andrea logo repreendeu seu esposo:
- Onde você achou uma foto do meu pai para mostrar pra ela? E por que você não disse nada que faria isso?
- Eu não mostrei nada – ele respondeu.
- Então como ela desenhou o meu pai? Ele morreu faz cinco anos e você sabe disso melhor que ninguém.
Marcelo ficou sem saber o que responder.
- Ela só pode estar doente. Precisamos leva-la em um médico Marcelo.
- Eu sou médico e posso garantir que ela não tem nada.
- Você é um ortopedista e está na cara que ela não tem nenhum problema com os ossos.
- Nossa filha não precisa de uma médica amor. Ela não está doente. Ela é especial e tem um dom muito lindo. Ela é capaz de se comunicar com os mortos.
- Desde quando um médico acredita em espíritos? – perguntou, ainda assustada.
- Desde que eu vi essa cena - Marcelo apontou a cabeça para dentro do quarto de Bárbara, onde Antônio e a garota conversavam normalmente. Andrea achou que seu marido estava louco, mas no fundo ele e Bárbara eram mais do que especiais. Pai e filha eram médiuns.
Ricardo Biazotto (@ricbiazotto)
Essa é uma história fictícia e qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. Foi difícil encontrar alguma imagem que pudesse representar este conto, e a usada foi retirada do site weheartit.com. Caso use algum trecho desse ou de qualquer outro texto do blog, dê os devidos créditos.

3 Comentários

  1. Olá Camila

    Sou Kinha do blog AMIGA DA MODA, vim conghecer seu espaço, gostei muito e já estou te seguindo. Vou aguardar a sua visita e ficarei feliz se me seguir também.
    Uma ótima 3º feira à vc...

    Bjoooooooo.....................
    www.amigadamoda1.com

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  2. Olá Kinha; valeo por passar por aqui. Passei o recado pra Camila e já vou ver seu blog também viu?

    Obrigado Bia *-* Fico feliz que tenha gostado do texto. É sempre bom quando escrevemos algum contom, ou coisas do gênero, e temos o reconhecimento. Muito obrigado mesmo viu?

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