ESPECTROS
- A Parede Mofa -
Na rua a escuridão era intensa, e o manto da noite fria só era rompido pela fraca iluminação dos velhos postes de ferro já corroídos pela ferrugem. Hora ou outra falhavam e eram vencidos pelo breu da noite dando assim, abrigo as criaturas noturnas, não mais intimidadas pela claridade.
Estava Amadeus atormentado seus olhos vidrados na parede mofa que se destacava das demais de seu velho apartamento. Pensava ele o que poderia ser aquela imagem que parecia querer formar algo, um desenho ia sendo contornado lentamente dia após dia.
Aquilo o atormentava, e ele achava estranho algo aparentemente insignificante o prender tanto a atenção e fazer tão mal, a figura inanimada não se definia.
Inquieto, e deitado em sua cama que já não era arrumada há dias, assim como o resto de sua casa, seus lençóis sujos, e restos de comida percebiam-se por todos os lados.
A parede mofa o tirava o sono que já não era dos melhores, pois sofria de insônia e passava dias sem dormir, por isso pensava ele ser o motivo de suas perturbações e pesadelos horríveis quando raras vezes que pegava no sono, vencido seu organismo já debilitado pelo cansaço.
Corria Amadeus como nunca o fizera antes, Algo o perseguia.  Olhava para traz em meio à multidão que ia e vinha de boates, bares e cabarés. Luzes de neon de todas as cores. Por mais que quisesse não conseguia despistar a estranha criatura que o perseguia. Criatura essa inumana que passava por entre as pessoas como se elas ali não tivessem matéria. Vinha a meio metro do chão.
Finalmente alcançou-o. Olhou para face de seu perseguidor e o que viu paralisou-o instantaneamente. O ser flutuava à sua frente. Vestes negras que mais pareciam trapos. Um grande manto quase imperceptível se não fosse as luzes de neon dos estabelecimentos e os faróis dos automóveis que passavam a todo instante. Sentiu-se sugada, sua alma esvaindo do corpo como se fosse areia por entre os dedos até perder a consciência e acordar do sono.
Seu corpo trêmulo como em convulsão fora se aquietando lentamente. As vestes encharcadas como se tivera a pouco saído de uma tormenta do olho do furacão.
O gelo de sua pele só era quebrado pela febre de quase 40 que já coagulava suas células e o fazia desmaiar.
Todos os dias da última semana fora assim. Estava esgotado fisicamente e psicologicamente. Ao sair de seu apartamento para a rotina diária; trabalhar sair com os amigos; divertir-se. Quanto mais se distanciava de seu apartamento, sentia aos poucos as energias retornar para seu corpo e alma.
Ele decidira acabar com aquela marca em sua parede. Fizera planos. Comentou com os amigos do trabalho: “Vou comprar tinta depois do expediente e de hoje não passa aquela parede mofa”.
O dia passou rapidamente como todos os outros para ele, só que esse fora diferente ao cair da noite. Ao retornar para o seu apartamento andara os últimos quarteirões. As luzes dos velhos postes produziam a única luminosidade das ruas. Amadeus sentia que algo vindo do breu da noite o olhava o tempo todo. Aquilo o incomodou. As luzes fracas falhavam constantemente, fazendo-o lembrar de seus piores pesadelos.
Correu os últimos quarteirões abrindo rapidamente sua porta e trancou-a com a mesma velocidade. Ao retornar para o seu lar pensava estar seguro e protegido. Olhou para parede mofada e esqueceu de todo os seus desejos e planos. Sentou ao pé da cama ainda bagunçada, com baratas e outros insetos que se alimentavam dos restos já podres de comida, e novamente fora sugado para dentro da estranha figura da parede mofa.
Por horas ficou ali e novamente caiu no sono que já não parecia tão raro para quem antes sofria de insônia.
— Finalmente, ele dormiu. — falou uma voz rouca e parecendo ser de alguém ou alguma coisa naquele quarto.
Algo agora percebia-se soltar daquela imagem do mofo da parede, antes sem forma, e agora definida, nítida. Aquilo começou a sair da velha parede e foi direto em direção a Amadeus caído em sua cama.
— Vou me alimentar. — falou a estranha criatura sugadora de energias vitais, emoções e sentimentos.
A criatura pairava a poucos centímetros do corpo de Amadeus. Sua face parecia a de um animal faminto o pouco que podia se notar era um rosto com pele ressecada olhos avermelhados e dentes pontiagudos com cabelo ralos e esbranquiçados cobertos com o manto negro. Suas mãos dedos compridos esqueléticos com unhas pontiagudas como de um animal predador.
Ele encostou sua face na de Amadeus percebia-se que algo saia de sua vitima, uma nevoa com tom azulado ia direto para a boca da criatura. Ele estava ali se alimentando e absorvendo a alma da pobre vítima, mais qual seria o propósito, desta criatura das sombras. Somente se alimentar ou teria algo mais algum plano desse ser malévolo.
Vagner Penna
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Quem é Vagner Penna? Vagner Penna , nasceu em São Paulo, Capital, em 1978. Formado em Ciencias Biologica, trabalha, atualmente, como Funcionario publico na cidade de Poá. Possui vários poemas e contos expostos no site recanto das letras, www.recantodasletras.com.br, e batalha a publicação de seus dois livros Weigon Estrander e a sociedade da espada negra e O Sétimo dom. A ultima estoria está hospedada no blog vagnerpennasetimodom.blogspot.com

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