Espectros
(Antes leia Capítulo 2 – A Origem)
- A Médium e o Zelador de Santo –
Uma das versões mais aceitas popularmente, sobre a origem da Umbanda fala sobre o médium Zélio Fernandino de Moraes que em meados do ano de 1908, acometido de uma doença misteriosa, foi levado por familiares a Federação Espírita de Niterói. Em determinado momento dos trabalhos da sessão Espírita manifestaram-se em Zélio espíritos que diziam ser de um índio e um escravo. O dirigente da Mesa pediu que se retirassem, por acreditar que não passavam de espíritos atrasados (sem doutrina). Mais tarde, naquela noite, os espíritos se nomearam como Caboclo das Sete Encruzilhadas e Pai Antônio.
Devido à hostilidade e a forma como foram tratados (como espíritos atrasados por se manifestarem como índio e um negro escravo). Essas entidades resolveram iniciar uma nova forma de culto, em que qualquer espírito pudesse trabalhar, as entidades começaram a atender na residência de Zélio todos àqueles que necessitavam. Fundou a Tenda espírita Nossa Senhora da Piedade. Essa nova forma de religião inicialmente foi chamada de Alabanda, mas acabou tomando o nome de Umbanda. Uma religião sem preconceitos que acolheria a todos que a procurassem: encarnados ou desencarnados, em todas as bandas.
Suzete de Lins era uma pessoa extraordinária de extrema sensibilidade espiritual, ela freqüentava há anos um terreiro de Umbanda no interior da grande metrópole São Paulo.
Considerada pelo Pai de Santo que nunca ostentou esse titulo, uma das mais fortes médiuns da casa. — Sua mediunidade vem de berço. Dizia ele.
Suze como era carinhosamente chamada pelo Pai de Santo “Antonio de Oliveira” o auxiliava nos trabalhos da casa. Em uma das sessões que acontecia sempre rigorosamente aos sábados, Suze atendera um homem aparentando não mais de 30 anos de idade, totalmente debilitado física e psicologicamente.
Ela percebera pela sua clarividência aflorada que o homem sofria de um quadro extremo de “parasitismo”, em processo avançado de obsessão, notou que seu corpo era tomado pela cólera, e que inúmeras larvas mentais estavam prezas ao seu perispírito. Percebeu também que um feixe muito sutil quase impercebível na cor roxa ligava o seu cordão de prata, diretamente do umbigo a algo ainda desconhecido.
Por Suze ser uma médium clarividente sua função no terreiro era triagem dos que procuravam ajuda para os diversos males do corpo e da alma. Ao avaliar o caso mais grave da noite ela pede esclarecimento ao dirigente da casa:
— Esse irmão está sofrendo um forte ataque de forças de extrema grandeza. — Disse Suzete ao dirigente da casa.
— Um dos casos mais graves que já tivemos em nossa casa, em todo esse tempo, que a freqüento. — gostaria que o senhor desse-me o entendimento se assim for permitido pelos nossos irmãos espirituais. — O que poderia está fazendo isso com ele?
— Primeiramente Suze, novamente eu lhe digo. — Não sou “Pai do Santo”, e sim Zelador e acima de tudo chame-me pelo meu nome. Falou ele.
O Zelador de Santo como gostava de ser chamado o Pai Antônio de Oliveira era uma pessoa de temperamento forte, mas amável e acima de tudo humilde, com seus quase 40 anos à frente do terreiro já havia visto muitas coisas ajudado inúmeras pessoas. Já havia atuado em diversos casos de obsessões, e ele sabia como o ser humano podia ser infinitamente bom ou ruim.
Ele fazia sua parte para ajudar o próximo buscando sempre o bem.
Antônio de Oliveira pede para Suzete esperar que suas perguntas e dúvidas fossem sanadas pela entidade que abriria os trabalhos da noite.
Suzete então se contêm e pede para o obsidiado sentar em um dos bancos que ficava a disposição da assistência que aguardava para ser atendida pelas entidades que ali desceriam.
Após algum tempo os trabalhos são iniciados, todos os membros da casa estavam de véstias brancas simbolizando a pureza, a paz e acima de tudo a luz. Os ogans como eram chamados os filhos da casa responsáveis por tocar os atabaques (tambores feitos de madeira e pele animai), entoavam os pontos, (cantigas que tinham um significado importantíssimo nas reuniões). Eles tocavam e cantavam. Os outros trabalhadores da casa cantavam juntos.
“Preto- velho quando tem luz
Ele arria em qualquer lugar
Primeiro cumprimenta Zambi
Sarava coroa
Sarava Conga”.
Simultaneamente os médiuns da casa foram recebendo as entidades. Suzete desenvolvera o dom da clarividência, mas não recebia entidades, e ficava como cambone (pessoa que dava assistência para os médiuns incorporados).
A gira era de Preto-Velho, entidades tidas como as mais fortes e sabias dos terreiros, que às vezes enganavam os leigos por sua aparência velha e frágil.
Na assistência o rapaz tremia como que influenciado pela força dos atabaques, Suzete atendia a entidade do dirigente da casa, mas sempre observando o rapaz, ela tinha o dom de ver os espíritos das sombras e os da luz. E sentia uma forte ligação com o rapaz.
O preto-velho do dirigente pede que Suzete conduza o rapaz até ele. Sentado em um toco de madeira a entidade toma seu café bem forte sem açúcar e da pitadas em seu cachimbo.
O rapaz se aproxima e senta em um banco já posicionado a frente da entidade, que pega nas mãos do rapaz e diz:
— Meu fio voz micê ta muito ruim. — o vozinho ta bizoiando muita maldade em cima de oce.
— Fazendo o sinal da cruz com os dedos banhados no óleo benzido na testa do mesmo, inúmeras vezes enquanto ia falando sem deixar que o rapaz pronuncia-se nada. Assim como deve ser as entidades serias que descem em médios preparados para caridade.
— Isso que suga sua energia fio é um espírito muito veio que há tempo não volta para carne, (Reencarna). — Ele foi mandado, isso preto-velho tem certeza, só num posso afirmar por que ou por quem.
— Temo que faze um trabaio de limpeza no seu cazua, para tirar esse mau doce. — E descobri quem o mando fio.
À medida que a entidade falava com seu dialeto simples, e de origem escrava, ia retirando os vermes do corpo do rapaz. Os vermes caiam um a um no chão e sumiam. Suzete via os vermes e o efeito do óleo na áurea do rapaz que aos poucos mudava a tonalidade e o tamanho, equilibrando novamente seu espírito. Mas tanto ela como a entidade do preto-velho, sabia que aquilo seria uma ação de alivio, mas que os vermes voltariam a causar dores nele se a limpeza espiritual não fosse realizada em sua casa e o verdadeiro vampiro de suas energias não fosse destruído.
Assim o preto-velho termina ha sessão com o rapaz. Suzete o conduz novamente para o banco da assistência e pede que ele fique até o termino do trabalho para que ela possa anotar o seu endereço e seu nome completo para o trabalho de limpeza que deveria ser realizado em seu lar.
O preto velho e as demais entidades continuam o atendimento as outras pessoas que ali também estavam à procura de ajuda.
Ao termino do trabalho agora já sem as pessoas da assistência, o Zelador de Santo Antonio Oliveira e Suzete de Lins explicam os procedimentos que devem ser tomados pelo jovem ao retornar para seu lar, eram coisas simples, mas que serviam de proteção mesmo que provisória até a limpeza definitiva de sua casa.
— Você deve colocar um copo com água e sal grosso atrás de sua porta de entrada. —Falou o Zelador e continuou — também comece a ter o hábito de acender uma vela de sete dias e a oferecer para seu anjo da guarda.
— E continua o Zelador. — não se esqueça do mais importante. — Hoje ao chegar a seu lar, antes de qualquer coisa tome um banho de sal grosso para afastar possíveis vermes e também a entidade que o obsidia.
O rapaz escutava tudo atento ele sabia que essas pessoas que o acolheram tão bem e não pediram nada em troca pela ajuda, era a sua única chance de retirar esse mal que o consumia. Ele já havia buscado ajuda em outras religiões, mas de nada adiantou.
Após as explicações e recomendações o Zelador deixa Suzete encarregada de anotar os dados do rapaz e sai.
— Qual é o seu endereço. — perguntou Suzete.
— Moro na Rua Tenente Pek, numero 300, Vila Imperador.
— Qual seu nome. — falou Suzete.
— Meu nome é Amadeus Siqueira. — responde o rapaz.
Vagner Penna
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Quem é Vagner Penna? Vagner Penna , nasceu em São Paulo, Capital, em 1978. Formado em Ciencias Biologica, trabalha, atualmente, como Funcionario publico na cidade de Poá. Possui vários poemas e contos expostos no site recanto das letras, www.recantodasletras.com.br, e batalha a publicação de seus dois livros Weigon Estrander e a sociedade da espada negra e O Sétimo dom. A ultima estoria está hospedada no blog vagnerpennasetimodom.blogspot.com


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