Solitário? Talvez, mas isso não impediu que Mário de Miranda Quintana se tornasse um gênio da poesia brasileira e mostrasse o seu talento com as palavras. Infelizmente foi injustiçado por muitos, mas tem sua importância para a nossa literatura e isso jamais será esquecido.
Mário Quintana nasceu em 30 de julho de 1906, na cidade de Alegrete, no Rio Grande do Sul. Filho de um farmacêutico iniciou seus estudos na cidade natal, mas aos 13 anos se mudou para Porto Alegre, onde teve a publicação de seus primeiros trabalhos literários.
Devido a problemas de saúde, Mário volta para Alegrete em 1924 e trabalhou na farmácia de sua família. No ano seguinte perde a mãe, Virginia de Miranda Quintana, e recebe um prêmio de um jornal pelo conto A Sétima Personagem. Com o passar dos anos, teve diversos poemas publicados em revistas e jornais, mas não poderia imaginar que um dia se tornaria tão importante para a literatura brasileira.
Em 1927 perde o pai e dois anos mais tarde é contratado pelo diário O Estado do Rio Grande, onde permaneceu durante longos anos. É em 1934 que Mário Quintana inicia sua carreira de tradutor, com a publicação de Palavras e Sangue, do escritor italiano Giovanni Papini. Quintana também foi responsável pela tradução de outros escritores, entre eles Voltaire e Marcel Proust, e graças a ele que os brasileiros tiveram os primeiros contatos com os escritores franceses.
O primeiro livro de Mário Quintana foi lançado em 1940, pela Editora Globo. Composto por 35 sonetos, A Rua dos Cataventos faz uma referência a infância do poeta, e leva o leitor a refletir sobre a morte, usando para isso diversos elementos naturais. A Rua dos Cataventos é uma exceção ao estilo de poesia que o poeta utilizou na maior parte de sua carreira, que se focava no simples e nos versos livres.
Até o inicio da década de 50, Mário Quintana lançou três livros - Canções (1946), Sapato Florido (1948) e O Aprendiz de Feiticeiro (1950) -, antes do lançamento de Espelho Mágico (1951), também pela editora Globo. Esse livro conta com comentários de Monteiro Lobato, que ao ler o trabalho de Quintana, em 1939, se impressionou e encomendou um livro. O escritor paulista não chegou a ver Espelho Mágico publicado, mas certamente sabia que ali estava um gênios da poesia.
Após quase dez anos sem lançar uma obra poética, Quintana reúne suas cinco primeiras publicações no livro intitulado Poesias (1962), que teve o patrocínio da Secretária da Educação e Cultura do Rio Grande do Sul.
Em 1966, ano em que comemorou seu sexagésimo aniversário, o poeta recebeu diversas homenagens, sendo inspiração para poemas e crônicas de outros autores, incluindo de Manuel Bandeira, que no poema Meu Quintana (trecho abaixo) escreveu:
Meu Quintana, os teus cantares
Não são, Quintana, cantares:
São, Quintana, quintanares.
Quinta-essência de cantares...
Insólitos, singulares...
Cantares? Não! Quintanares!
Quer livres, quer regulares,
Abrem sempre os teus cantares
Como flor de quintanares.
São cantigas sem esgares.
Onde as lágrimas são mares
De amor, os teus quintanares.
O círculo de amizades de Mário Quintana era repleto de intelectuais, e além de Manuel Bandeira, tinha amizade com Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Moraes, Cecília Meireles e João Cabral de Melo Neto. O gaúcho recebia elogios de todos eles, mas essas amizades não foram suficientes para elegê-lo a uma cadeira na Academia Brasileira de Letras, o que tentou por três vezes. Foi convidado para se candidatar uma quarta vez, mas ele recusou e disse: “É pena que a casa fundada por Machado de Assis esteja hoje tão politizada. Só dá ministro”.
Mais tarde, em 1986, ao completar 80 anos, é publicada a coletânea 80 Anos de Poesia, organizada por Tânia Carvalhal e mais uma vez lançada pela editora Globo. Neste ano lança também Baú de Espantos, que continha 99 poemas inéditos.
O poeta faleceu em 05 de maio de 1994, aos 87 anos, e está enterrado no Cemitério São Miguel e Almas. Não deixou filhos. Deixou apenas um vasto arquivo de poesias e crônicas, que revelam a simplicidade por trás deste homem que viveu grande parte de sua vida sozinho, mas que deixou palavras sobre sentimentos de amor, de tristeza, entre outros. Não foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, mas Mário Quintana é sem dúvida alguma um Imortal da Literatura.
“A morte é a libertação total: a morte é quando a gente pode, afinal, estar deitado de sapatos” – Mário Quintana.
Mário Quintana - ☆ 30/07/1906 - ✞ 05/05/1994