Que a literatura e a teledramaturgia são grandes parceiras ninguém pode discordar, porém poucos autores conseguem expandir suas obras literárias e obter grande sucesso em ambas as artes. No Brasil, o autor que mais teve suas obras adaptadas foi Jorge Leal Amado de Faria, que se estivesse vivo estaria completando 100 anos.
Nascido em 10 de agosto de 1912, em um distrito da pequena cidade de Itabuna, no sul da Bahia, Jorge Amado era o primeiro filho de um fazendeiro de cacau. Antes de completar dois anos, uma epidemia de varíola atingiu a região e a família Amado se mudou para Ilhéus, cidade que, a exemplo de toda região cacaueira, se tornaria cenário de diversos romances do futuro escritor.
O contato com a leitura surgiu com o apoio de sua mãe, Eulália Leal, mas os estudos aconteceram em um internato religioso. Foi ali que Jorge Amado conheceu os grandes clássicos da literatura de língua portuguesa e seu talento com as palavras foi despertado.
Com quatorze anos conseguiu seu primeiro emprego, sendo repórter policial do jornal Diário da Bahia. Anos mais tarde, fundou um grupo de escritores que pregava a arte moderna e um de seus companheiros o apresentou ao candomblé, religião que o ajudou na criação do seu mundo literário.
A estreia como escritor foi com a novela Lenita (1929), parceria com Edison Carneiro, onde o autor usou o pseudônimo Y. Karl. Já o primeiro romance, O País do Carnaval, foi publicado no ano seguinte. Nesse livro, Jorge Amado conta a história de um intelectual, que ao voltar da França, se depara com uma sociedade diferente e é contra a essa realidade encontrada.
No mesmo ano, Jorge Amado partiu para o Rio de Janeiro, onde estudou Direito e teve os primeiros contatos com a política. A desigualdade social do país o motivou a se filiar ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) e em 1945 foi eleito deputado. Alguns de seus projetos, como o que garante os direitos autorais, foram aprovados e se tornaram leis, porém problemas posteriores atrapalharam sua carreira política e teve seu mandato cassado.
Antes disso, o autor publicou Cacau (1933), livro que dá início a série de histórias focadas nas fazendas de cacau no sul da Bahia e nos ideais socialistas, que começam a ganhar espaço em sua obra. Nesse mesmo ano se casou com sua primeira esposa, Matilde Garcia Rosa, com quem teve uma filha que faleceu aos quatorze anos.
Com as ideias do chamado Movimento de 30 tomando conta das personalidades culturais da época, Jorge Amado se torna amigo de grandes nomes da arte em geral, como Vinicius de Moraes e Graciliano Ramos. Também publica os livros Suor (1934) e Jubiabá (1935), sendo que este dá vida ao primeiro protagonista negro da literatura brasileira: Antônio Balduíno.
Com pouco mais de vinte anos, Jorge Amado já era um sucesso nacional e internacional, o que contribuiu para uma longa viagem feita por toda a América Latina e os Estados Unidos. Em 1936 publicou Mar Morto e no ano seguinte um de seus maiores sucessos: Capitães de Areia, escrito durante suas viagens. Ambientado em Salvador, o sexto romance de Amado retrata a vida de um grupo de crianças espertas, agressivas e carentes, que criam suas próprias regras para sobreviver as dificuldades impostas pela desigualdade. O livro deu origem a um filme, em 1969, e mais recentemente Cecília Amado, neta do autor, dirigiu uma refilmagem de Capitães de Areia.
Quando voltou ao Brasil, o autor enfrentou problemas políticos e teve exemplares de sua obra queimados em praça pública. Seus livros não podiam mais ser vendidos no Brasil e Jorge Amado chegou a ser preso, o que já tinha acontecido anos antes. Em seguida se mudou para São Paulo, antes de partir para países vizinhos, onde se exiliou e escreveu a biografia de Luiz Carlos Prestes, intitulada O Cavaleiro da Esperança (1942) – também proibido de circular no país.
Apenas em 1943 voltou a ter um romance publicado. Terras do Sem-Fim, adaptada em uma telenovela da Rede Globo no ano de 1981, volta ao início do século XX, quando acontecia o desbravamento das matas para o plantio do cacau, e mostra disputas de terras e reviravoltas políticas.
Em 1944, Jorge Amado publica São Jorge de Ilhéus e separa-se de Matilde. No ano seguinte conhece a escritora Zélia Gattai, com quem teve dois filhos: João Jorge e Paloma. Desde que se conheceram, Zélia foi fundamental para a carreira literária do romancista e ambos continuaram juntos até o dia da morte do autor.
No final da década de 40, se mudou para a Europa com a família, onde conheceu importantes nomes da arte, como Pablo Picasso. Continuou escrevendo e lançou uma peça de teatro, intitulada O Amor do Soldado (1947).
Na década seguinte, algumas características já presentes em sua obra passam a ter maior importância, como o humor e a sensualidade. Foi usando deste estilo que Jorge Amado publicou Gabriela, Cravo e Canela (1958). Com uma narrativa sedutora, a história gira em torno de diversas personagens, mas dá destaque ao romance da mulata Gabriela e do árabe Nacib. Além de toda a sensualidade da protagonista, o autor faz novamente um relato sobre a sociedade da década de 20 e sobre o comportamento das pessoas perante diversas situações. Gabriela, Cravo e Canela é uma das obras mais adaptadas do autor - um filme, três novelas, entre outros -, sendo que uma das versões, adaptada por Walcyr Carrasco e interpretada por Juliana Paes, está em exibição pela Rede Globo.
Jorge Amado foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 06 de abril de 1961 e ocupou, até a data de sua morte, a cadeira 23, fundada por Machado de Assis.
Nos anos seguintes vieram novos clássicos, como A Morte e a Morte de Quincas Berro d’Água (1961), Dona Flor e seus Dois Maridos (1966) e Tenda dos Milagres (1969), esse último importante para a luta contra o preconceito racial e religioso.
Entre 1972 e 1997 o autor publicou onze livros, sendo um deles de memórias: O Menino Grapiúna (1982). Entre esses anos, um dos grandes clássicos publicados foram os livros Tieta do Agreste (1977) e A Descoberta da América pelos Turcos (1994), romance encomendado por uma editora italiana em comemoração aos 500 anos da descoberta da América. O livro ainda deu origem a novela Porto dos Milagres (2001) – baseada também no romance Mar Morto.
A década de 90 teve mais importância pelos fatos do que pelas próprias publicações. Nessa época, Paloma, filha do autor, iniciou um processo de revisão na obra completa do pai. O autor ainda recebeu, em 1994, o Prêmio Camões, um dos mais prestigiados prêmios da literatura de língua portuguesa.
Em 1996, após sofrer um edema pulmonar, Jorge Amado teve sua saúde prejudicada e uma cegueira parcial o impediu de ler e escrever, o que o deprimiu. Foram longos anos de luta, até que faleceu em 06 de agosto de 2001, deixando uma legião de fãs e uma obra de grande valor cultural e social.
O estilo de Jorge Amado e a forma como suas obras atingiram a sociedade brasileira ao longo das décadas, fizeram dele uma figura fundamental para a nossa história. Um autor que deve ser visto nas telas da televisão e nos palcos dos teatros, mas também lido, já que suas palavras encantam a todos. Não é preciso ser especialista para saber que o país do carnaval tem um dos maiores romancista do mundo: Jorge Amado um Imortal da Literatura.
“Aqui se encontraram os homens brancos, os homens índios e os homens negros. E aqui se misturaram. Não ficaram separados, cada uma com a sua contribuição cultural. Aqui vieram, fundiram seus sangues e suas culturas.” – Jorge Amado.
Jorge Amado - ☆ 10/08/1912 - ✞ 06/08/2001











