Durante agosto e dezembro de 2011, foi postada aqui no blog a primeira temporada da série William, seu dinheiro e..., que conta a história de um playboy que tem sua vida mudada após o reencontro com uma garota. Ao longo da série, ele percebeu que estava cometendo diversos erros e com isso conquistando rivais. Mas percebeu isso tarde demais.
Na última parte, William Herz foi baleado e agora o detetive Franccesco Fracalossi é chamado para desvendar esse mistério. Serão 19 capítulos ao longo dos próximos domingos.
05 de agosto de 2012
A lua já tomava espaço no céu estrelado, quando Franccesco Fracalossi chegou a seu apartamento, em um prédio de classe média no centro da pequena cidade de Santa Clara de Assis, no interior do Estado. Estava extremamente exausto por mais um dia de trabalho em sua agência de detetives. Ao contrário de anos antes, os trabalhos eram extensos e ocupavam grande parte dos seus pensamentos, muitas vezes não dando tempo para aproveitar e estar ao lado de sua própria família.
Como fazia todos os dias, Franccesco foi ao quarto de seu filho, que já dormia, e beijou levemente o rosto de Marcos, desejando-lhe uma boa noite de sono e pedindo que os anjos e os santos protegessem seu pequeno herdeiro. Na cozinha, Franccesco encontrou Ana Paula, sua esposa, que com alegria e orgulho preparava o jantar para o marido. Ela também trabalhava na Agência de Detetives Irmãos Fracalossi. Sua função era menos cansativa e lhe dava tempo para cuidar da casa, do filho e de outros problemas que por ventura surgissem na família Fracalossi.
O único momento de relaxamento do casal era no fim da noite, quando jogavam conversa fora e trocavam beijos e carícias. Assim ficavam até o sono ser mais forte. Só então Ana Paula se despedia do marido e ia ao quarto. Ele, por sua vez, se dirigia ao banheiro onde tomava um demorado banho que o relaxava para ter uma confortável noite de sono. Naquela noite não foi diferente e nada indicava que seria uma noite atípica.
Com o banho tomado e enrolado em uma toalha, Franccesco voltou ao seu quarto, vestiu um calção velho e pouco antes da meia noite estava deitado, orando ao seu santo protetor. A oração foi interrompida pelo fechar dos olhos e com o relaxamento de seu corpo. O sono foi mais rápido do que sua vontade de agradecer aos céus por mais um dia e pedir proteção a alma de seu finado irmão.
O que Franccesco não esperava era que seu sono fosse perturbado pelo toque de seu celular, que o despertou poucos minutos depois. Ele rapidamente pegou o aparelho e o atendeu, não querendo acordar sua esposa, que dormia calmamente do seu lado esquerdo. Ficou irritado ao ouvir a voz de sua melhor amiga, a delegada Thaís Fontaine. Mesmo estando há quilômetros de distância, ela não perdia o costume de irritá-lo e na maioria das vezes conseguia tirá-lo do sério.
- Franccesco, que bom que você atendeu. – parecia satisfeita por falar com o amigo, mas também não conseguia esconder a leve preocupação. Franccesco sabia: algo tinha acontecido e na maioria das vezes não era nada que precisasse perturbar seu sono. - Preciso muito de você.
- Isso é hora de ligar, Thaís? - perguntou com ironia, enquanto deixava o quarto - Depois de velha perdeu a educação, é isso?
- E por que não poderia ligar agora? Estou atrapalhando a transa do casal?
- Cala essa boca Thaís! – sussurrou em tom de ordem – Passei o dia trabalhando e preciso descansar.
- Bom, não foi para isso que liguei. – a mulher do outro lado da linha mudou de assunto rapidamente – Preciso que você venha até aqui.
- Aqui?
- Exatamente. Preciso da sua ajuda. É um caso muito interessante e tenho certeza que você não deixaria essa oportunidade passar.
- Cazzo, aqui onde? – e sem esperar a resposta, ele completou – Aliás, já estou trabalhando em um caso. Não posso assumir nenhum outro.
- Em uma casa de shows. – ela ignorou a desculpa do amigo - O vocalista de uma banda foi baleado enquanto se apresentava e receio que não será fácil encontrar a pessoa que tentou matá-lo, mesmo em um local fechado. Foi tudo muito bem planejado.
O italiano gargalhou antes de responder:
- Você acha mesmo que vou perder minha noite de sono investigando algo tão estúpido? Ele deve estar envolvido com drogas ou ter roubado a mulher de alguém. Só tirar a verdade dele que tudo será resolvido.
- Larga mão de ser preconceituoso, Franccesco. Numa hora dessas ele pode estar morto e sua reputação vai para o lixo se a população descobrir que você disse esses absurdos.
- Quem é o infeliz? – pela primeira vez Franccesco se mostrava interessado no assunto. Não por medo de perder a reputação, só queria encerrar aquela ligação o quanto antes e poder voltar para sua cama. Só não esperava conhecer o jovem baleado que precisava de sua ajuda.
- William Herz, um dos mais jovens e bem-sucedidos empresários do país.
- Me passe o endereço. Estou indo agora mesmo – respondeu com espanto ao descobrir que o filho de um grande amigo poderia estar morto.
Thaís Fontaine não demorou a passar o endereço a Franccesco, que anotou em um pequeno bloco de anotações que permanecia sempre no balcão da cozinha. Sem se despedir, desligou o telefone e foi se preparar para mais um caso. Não estava acostumado a trabalhar durante a madrugada e não tinha porque reclamar de abrir uma exceção. Era pela memória de um grande amigo.
Enquanto procurava uma camisa e a calça jeans preta que fazia parte de seu estilo, o italiano pôde ouvir a doce voz de sua esposa, que perguntou preocupada:
- Onde você está indo uma hora dessas, meu querido? Aconteceu alguma coisa?
- Desculpa ter te acordado. - se aproximou da esposa e deu-lhe um beijo na testa, voltando a se preparar para o que aconteceria a partir dali – Como sempre Thaís precisa da minha ajuda. Um empresário, e vocalista de uma banda, foi baleado em uma casa de shows. Ele pode estar morto.
- Você vai sair de casa uma hora dessas por causa de um vocalista? Você está doente? – ela conhecia o marido como ninguém e sabia que ele jamais teria tal atitude. Era um homem complicado, cheio de teorias estranhas que questionavam as pessoas, principalmente quando se tratava de jovens.
- Não é um vocalista qualquer, meu amor. É William Herz, um jovem especial e filho de um grande amigo. – pausou, enquanto penteava os cabelos. Em seguida voltou até sua esposa e beijou seus lábios apaixonadamente antes de completar – Preciso que você cuide do outro caso. Todas as informações estão sob a escrivaninha do meu escritório. Minha prioridade agora é descobrir quem quer acabar com William e não volto para casa antes de saber a verdade.
Ricardo Biazotto (@ricbiazotto)
