Protagonista de uma bonita história de vida, ele possui experiência em diferentes áreas, nem sempre ligadas à arte. Ao comentar sobre o assunto, ele diz acreditar que isso lhe dá uma “vantagem muito grande” quando escreve suas histórias, já que vivenciou grande parte das experiências descritas em seus textos. Isso também é perceptível quando acompanhamos seu primeiro livro e percebemos uma característica quase rara em seu gênero literário: a complexidade com que aborda algo tão amplo como a literatura policial. Mas isso não basta para resumir o homem e escritor Ivair Antonio Gomes, autor de Morte em Dezembro. Ele tem muito que falar, seja sobre sua paixão pelos livros ou experiências de vida, e é por isso que estamos De Olho Nele:
Foto: Marcelo Bittencourt
Over Shock - Ivair, primeiramente gostaria de agradecê-lo por conceder essa entrevista comentando sobre a sua carreira literária, em especial sobre o livro Morte em Dezembro. Para iniciar esse papo, gostaria que você fizesse um breve comentário contando aos nossos leitores quem é o escritor Ivair Antonio Gomes.
Ivair Antonio Gomes - Sou um cara comum. Prefiro andar a pé que de carro. Sou um desses que andam por aí, com uma mochila nas costas. Na mochila sempre um livro e um caderno para anotações. Gosto de escrever. Não tenho um ídolo, propriamente dito. Talvez meu pai, por sua honestidade e integridade. Comecei a escrever primeiramente poesias, depois parti para os contos e acabei caindo em novelas policiais. Já cheguei a ler mais de 05 livros por mês, mas no momento quando consigo ler um livro por mês me dou por satisfeito. Não tenho gosto nem estilo literário pré-definido. Já li desde grandes clássicos da literatura até os livrinhos de catecismo do Zéfiro. Tive minha fase de ler livros gnósticos, espíritas, esotéricos,  livros de artes marciais, livros de filosofia,  romances e claro livros de espionagem e aventura. Comecei a ler cedo. Aos 05 anos, em 1974, eu já lia. Isso lá nos rincões do Mato Grosso do Sul. Comecei a ler pelos Gibis. Escrevi minhas primeiras letras em papel de pão. Tentando copiar aqueles desenhos que formam palavras que os personagens do gibi “superpoderosas” da antiga EBAL. De um lado as aventuras a “Mulher Maravilha” e do outro “Poderosa Isis”. Sempre adorei Gibis. Sempre chamei de Gibi. O termo HQ eu conheci depois de velho.

Over Shock - Ao se descrever quando firmamos a parceria, você revelou que já trabalhou em várias profissões como boia-fria nas plantações de algodão e amendoim, funileiro, estofador, em um supermercado e como livreiro. Trabalhar em áreas tão distintas ajuda uma pessoa a despertar sua criatividade e se tornar um bom escritor?
Ivair - Sem dúvida nenhuma. Creio que isso me dá uma vantagem muito grande quando escrevo meus contos urbanos. Pois muitas das coisas ali descritas eu vivenciei. Estou colocando isso em um livro que está engavetado. Chamado Contos de Morte.

Over Shock - Antes de publicar Morte em Dezembro você escreveu vários contos que foram publicados na internet, em especial no famoso “Recanto das Letras”. Nessa época você já se imaginava publicando um livro ou lançar um trabalho no formato físico é um sonho mais recente? Atualmente você tem a intenção de publicar esses contos em algum livro?
Ivair - Sim e não. Vamos inverter então. Não e sim. Eu comecei a escrever no Recanto das letras por gostar. Por me sentir bem. Ouvia os comentários do pessoal e mandava brasa, tentando sempre melhorar. Mas não tinha a pretensão de escrever nada em livro físico. Isso surgiu depois. Como citei acima, sim, tenho a intenção de publicar alguns dos contos que escrevi no recanto das letras. Aliás, dos quatro romances que tenho engavetados, tres deles surgiram dos contos que lá postei.

“Ainda tenta pegar a arma em sua maleta, mas o homem mascarado à sua frente é mais rápido. Mortalmente rápido. Apenas um golpe e Marcos Lima vê tudo escurecer. Cai ao chão. Leva as mãos ao pescoço. Sente uma dor lancinante. Tenta gritar mas não consegue. É como se uma bola estivesse em sua garganta impedindo qualquer som de sair” – Morte em Dezembro (pág. 62).

Over Shock - Ainda nas primeiras páginas de Morte em Dezembro você revela que o livro foi escrito inicialmente em 1999 e que fez muitas modificações antes de publicá-lo. Quais foram as principais alterações? Em algum momento você mudou o rumo inicial da história?
Ivair - Olha, quando comecei a escrever morte em Dezembro, a época era outra. Nosso país estava começando a engatinhar para se tornar o que é hoje. Uma potência mundial. Claro que tem seus problemas, não podemos ser ignorantes e fechar os olhos para os mandos e desmandos. Mas é fato que o país mudou, a sociedade mudou, os jovens de hoje não são os jovens de outrora. O mundo mudou muito, o Brasil mudou. Para se ter uma ideia quando comecei a escrever ainda não havia acontecido o ataque ás torres gêmeas, a China não era a potência que é hoje, Obama não era Presidente dos Estados Unidos e muitas outras coisas. Somente o pessoal da área de segurança Internacional conhecia Osama Bin Laden. Com tudo isso eu mudei alguns cenários, que hoje já não existem mais, e tive que mudar também o cenário final do livro, que inicialmente ocorreria em uma praça onde antigamente havia o palácio do governo, mas hoje só existe a praça e o palácio do governo mudou de lugar. Alguns personagens acabaram ficando desfocados em virtude dessas mudanças reais, que infelizmente acabaram por influenciar também o decorrer da novela policial.

Over Shock - Após todo esse tempo, qual foi a sua reação ao ver a obra publicada? Você acha que essa reação teria sido diferente caso tivesse publicado o livro na época em que começou a escrevê-lo?
Ivair - Sem dúvida nenhuma, que se eu tivesse publicado o livro na época, como ele estava planejado inicialmente, poderia ser bem diferente o contexto. Eu fiquei muito contente ao ver minha obra publicada. Afinal, foram mais de 10 anos esperando por isso. E creio que os leitores não se decepcionarão.

Over Shock - Você revela ainda que na época conversou com autoridades policiais que o ajudaram na escrita de Morte em Dezembro. Em minha opinião, você explorou todos os aspectos do meio policial, o que saiu um pouco da já conhecida estrutura de romances policiais. Que tipo de ajuda você recebeu dessas autoridades? Sem essa ajuda seria possível escrever a história de uma investigação de forma tão verdadeira e diferente?
Ivair - Olha, eu até me espantei quando consegui essas informações. Na verdade foram conversas informais. Durante algum tempo eu fiz um curso, dentro de um concurso para policia federal, onde conheci algumas autoridades. Não passei no concurso, mas consegui algumas amizades e em conversas descontraídas consegui obter algumas informações que pude usar no livro.  Se seria possível escrever a história sem essa ajuda? Talvez sim, mas acho que não traria esse conteúdo todo e como você diz, não seria “diferente”.

Over Shock - Como é escrever sobre um “serial killer”? Você precisou realizar alguma pesquisa para isso?
Ivair - Olha, na verdade não se trata de um serial killer. Existe diferenças enormes entre um serial killer e um assassino profissional. Um assassino profissional, pode em algum instante ter algo de psicopata, mas normalmente é um profissional que foi contratado para realizar algum trabalho. Por mais que isso choque, existem muitas pessoas que “trabalham” assim. O Serial Killer não é um profissional, é apenas uma pessoa que tem uma psicopatia por matar. De um modo ou outro, sente prazer em matar. Precisa matar, Sente necessidade disso. O profissional é bem diferente. Não mata pelo bel prazer, mata por que tem um código de conduta e precisa agir cuidadosamente para nunca ser pego. A diferença nesses casos pode ser resumida assim: Um mata por prazer e anseia por isso, outro mata porque é sua profissão, seu ganha-pão. Realizei muita pesquisa para Morte em Dezembro sim, mas sobre serial killers, especificamente eu pesquisei mais durante a escrita de “Dias Difíceis”, outro livro no prelo cuja temática se prende mais a serial killer.

“Ele já era um homem caído pela idade, barriga, careca e passos cansados. Mas o reconheci mesmo assim. Caminhava sem pressa, com um enorme casaco a lhe proteger do frio que a tarde catarinense faz em Blumenau. Não percebi se ele me viu.
Filha da puta! Desgraçado! Não pude conter minha raiva.
Mas me encolhi junto a um muro, assim que o vi.
Eu tremia. De frio é que não era. Era raiva.
Um ódio que vinha do passado. De repente criei coragem e fui atrás do safado” – A Confissão do Diabo (Xstranho em Recanto das Letras).

Over Shock - Você possui um novo trabalho pronto ou sendo preparado para o futuro? Sua intenção é continuar no mesmo gênero ou prefere se aventurar em novos gêneros literários?
Ivair - Eu sempre gostei em escrever algo onde as pessoas tem que pensar, imaginar o que irá acontecer. Não posso descartar a hipótese de escrever em outra área. Tenho mais 04 romances em fase de finalização. O Quinto-Homem, trata de algo mais esotérico, mas é um policial também. Tenho iniciado também um projeto para escrever sobre a caverna de esmeraldas de Fernão Dias Paes, este será uma aventura,  e outros dois que estão bem engavetados.

Over Shock - Sobre o gênero usado por você em “Morte em Dezembro”: existe uma carência de escritores de romances policiais em nosso país? (Se sim), a que você atribuiu essa carência?
Ivair - Não!! Em absoluto. Temos vários e ótimos novos autores surgindo no cenário do romance policial, mas o que falta mesmo é oportunidade, um espaço para eles aparecerem.  É um gênero muito vasto e aberto. Uma simples conversa sobre um livro pode ser o estopim para a criação de um novo livro policial. O que eu acho é que falta também a clara definição do romance policial. Para mim, onde há crime para ser descoberto, e existe a presença de um personagem policial, isto caracteriza um romance policial. Mas muitos misturam tudo, policial, terror, mistério.  Creio que temos uma ótima safra de novos escritores policiais. Mas não é dado a eles o devido valor.

Over Shock - Muito se fala do receio dos leitores brasileiros em ler obras nacionais, mesmo sabendo da qualidade dos nossos escritores. Em sua opinião, de quem é a “culpa” (editora, leitores, mídia, governo etc) e o que motiva esse receio? Existe algo que possa ser feito?
Ivair - Bom, a culpa nunca é de um lado só. Se o livro é ruim e a editora publica, ele não vende, será? E a mídia em cima dele? Mas se o livro é bom, bem escrito e a crítica não gosta, como será vendido esse livro? Qual a livraria que irá se interessar em vender um livro que a crítica acabou por denegrir? Existem Editoras que não possuem primor em editoração e isso pesa também na qualidade do livro. O que poderia ser feito é uma conversa melhor entre ambos, autor e editora, pois muitas vezes o autor é de primeira viagem e seu trabalho fica prejudicado, até mesmo para um futuro novo lançamento. Não é a editora que fica marcada, é o Autor.

Over Shock - Jogo Rápido
Guerra e Paz: Perfeito quadro da humanidade.
Sebo: Sonho, liberdade e esperança.
Morte em Dezembro: O primeiro passo.
Xstranho: Marcante.
Futuro: Aprimorar.
Sonho: Escrever e voltar a viver em um sítio.
Mercado Editorial: Cheio de contratempos.
Editora Dracaena: Uma oportunidade.
Blogueiros literários: Amigos, parceiros, divulgadores.

“Nesse momento, um som lhe chama a atenção e ele olha para cima, bem a tempo de desviar-se de mais um tijolo que vinha diretamente para sua cabeça. No movimento repentino que faz para desviar-se, acaba caindo fora do elevador, mas com um rápido reflexo sua mão direita agarra-se a um dos cabos, salvando-se assim de uma queda mortal” – Morte em Dezembro (pág. 204).

2 Comentários

  1. "Na mochila sempre um livro e um caderno para anotações." Me identifiquei hehe
    Não conhecia o autor nem o livro, o autor parece bem simpático e também o livro parece ser interessante.
    A parte onde ele diz "Existem Editoras que não possuem primor em editoração e isso pesa também na qualidade do livro", eu concordo. Não só a parte gráfica, mas tem editora que tem uma revisão muito ruim e eu já deixei comprar livros dela pq isso atrapalha muito.
    Achei muito bacana a entrevista.

    Bjo

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  2. Como eu já havia dito entrevistas são ótimas. Gostei de saber sobre o autor de Morte em Dezembro e de entender o que é realmente um romance policial.

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