Inicio minha colaboração para o Over Shock com essa polêmica: surfando na web há um tempo atrás encontrei uma postagem de blog chamada Teapot Weather Forecast: Category 5. A foto ao lado trazia a seguinte legenda (I…have to read this book from Pink Narcissus Press? - Eu… tenho que ler esses livros da Editora Pink Narcissus?), K. Tempest Bradford ofendeu muitas pessoas criando um desafio de leitura. K. Tempest é crítico literário e mantém uma coluna onde comenta suas leituras. Após uma série de acaloradas discussões com os leitores de sua coluna que estavam reclamando que ele só comentava obras de autores homens brancos caucasianos, o autor lançou um desafio, por um ano iria ler apenas obras de autores que não fossem brancos, sis, ou heterosexuais.

Se você não tem a menor ideia do que é um cis, você não está só. Pelo menos por enquanto. Neste artigo de Bradford, se explica que cis (de cisgender) é uma pessoa que se identifica com o seu gênero de nascimento.

Bem, eu sou a última pessoa que daria esse conselho, afinal sou um escritor branco caucasiano heterosexual. Talvez a única minoria a que eu pertença, pensando globalmente, é ser um latino. Embora eu já tenha passado por norte-americano. Até abrir a boca. Mas então afinal, por que chegamos até aqui? Bem, isso me levou a pensar no nosso mercado. Se esse desafio fosse lançado no Brasil, iríamos ler o quê?

Nos mais vendidos da Veja dessa semana (escrevi isso na primeira semana de março de 2015) não leríamos nenhum título. E. L. James está emplacando sua trilogia cinzenta, e é hetero e casada. Assim como Gayle Forman e seu Se eu ficar e sua continuação Para onde ela foi. Antoine de Saint-Exupéry e uma nova(?) edição d’O Pequeno Príncipe. Os próximos da lista são John Green, Veronica Roth e Gillian Flynn. O John Green até escreveu um livro com temática gay, mas ele mesmo não é gay.

Se não podemos contar com os best-sellers, o que se está produzindo hoje que se encaixaria? A primeira coisa que me vem à cabeça é a coletânea Boys Love da Draco. Alliah é uma jovem autora muito talentosa, ela participa de diversas antologias e publicou um romance chamado Metanfetaedro pela finada Tarja Editorial. Nos mais vendidos Gay/LGBT da Amazon, a maior editora listada ali é a Draco, com Boys Love novamente.

Um autor de talento que vem se destacando é Jim Anotsu. Não sei qual a orientação sexual dele, mas não é branco caucasiano. Seu último livro está saindo pela Gutemberg, se chama Rani e o Sino da Divisão. Autores negros de talento não faltam em nosso país, e para citar cinco autores contemporâneos que merecem atenção podemos citar Joel Rufino dos Santos, Elisa Lucinda, Conceição Evaristo, Paulo Lins e Ana Maria Gonçalves.

Pesquisando para esse post ficou claro que os mais vendidos não são as minorias, mas também ficou claro que dentro dessas exceções estão autores que com certeza vale a pena ler. O que você acha? Deixe seus comentários (afinal são eles que alimentam a coluna).







Sobre o Autor
Mauricio R B Campos nasceu em São Paulo, em 1977. Com formação em Administração, trabalha no mercado financeiro. É casado e está radicado em São Carlos (SP) desde 2008.
Publicou contos em diversas antologias, dos mais variados gêneros literários, tanto em formato tradicional quanto e-book, das editoras Komedi, Andross, Aped, Ixtlan, Illuminare, Multifoco, Navras Digital, Babelcube Inc., Darda e Buriti.
Como roteirista participará da antologia de HQ "O Rei de Amarelo em Quadrinhos".
Mantém um Website, uma conta no Twitter, Facebook e mais outras tantas redes sociais que não dá conta de verificar, atualizar, postar e compartilhar.

2 Comentários

  1. Olá Mauricio e Ricardo!
    Acho que estou um pouco por fora da literatura de minoria (chamarei assim). Eu realmente me encaixo no padrão dito no texto, de caucasianos, héteros e cis.
    Se for levar em conta o Machado de Assis, deve ter sido a única coisa que li.
    O artigo realmente foi muito interessante e mostra que se deve dar importância a todo tipo de literatura, ainda mais se vier algo fora deste "padrão".
    Beijos!

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    1. Olá Ane, é uma reflexão muito interessante. Outro aspecto que demonstra a diferença do nosso mercado com o americano é a diferença de tamanho, por lá já existem diversas editoras focadas em minorias, enquanto aqui é um nicho de mercado muito pouco explorado. Eu pesquisei e encontrei uma única editora especializada, ao que parece, em literatura gay feminina, que funcionou por sete anos, a Malagueta (https://www.facebook.com/editora.malagueta?fref=ts).
      Obrigado por seu comentário,
      Abraços

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