Duas Vezes na Floresta Escura, Caio Riter, 1ª edição, São Paulo-SP: Gaivota, 2014, 164 páginas.
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Ao se mudar com o pai para uma pequena cidade sem nada para se fazer, Suzana se sente muito sozinha. Tudo que desejava era que a mãe voltasse de viagem e que ela própria pudesse ter de volta a vida que estava acostumada. Mas isso não aconteceria simplesmente por querer e, de uma forma ou de outra, ela precisava se adaptar.

Enquanto tudo não volta a ser como era, Suzana conhece novas pessoas, incluindo o enigmático César. No entanto, ainda durante o processo de adaptação, um crime bárbaro acontece e abala toda a cidade. E aparentemente apenas Suzana é capaz de solucionar esse mistério.

“Olho mais uma vez pra floresta no fim da rua. Estive lá perto hoje. Ouvi o cantar de pássaros e algo que me pareceu o ronco de um bugio. Não duvido nada que tenha macaco por lá. Até feras deve ter, e cobras, e sei lá mais o quê. Vontade de atravessar a cerca de arame farpado e me enfiar no meio daquelas árvores e me esquecer de tudo e de todos. Só eu e eu mesma. Mas é frio, senti frio lá perto. Não sei se era frio de frio mesmo.
Ou” (pág. 18).
A velha mania de criar expectativas por uma obra sem antes buscar muitas informações sobre ela ainda vai causar algumas decepções. Por muito pouco isso não aconteceu com Duas Vezes na Floresta Escura. Embora conhecesse brevemente o enredo do livro de Caio Riter, por algum motivo imaginei que seria uma história de muita tensão e talvez uma leve pegada de terror. Na verdade, a história tem apenas características de obras juvenis e uma pegada de suspense.

Como o próprio autor define, Duas Vezes na Floresta Escura narra duas histórias dentro de uma só. Felizmente foi isso que impediu que me decepcionasse, afinal a segunda história sim atendeu as expectativas e, mais do que isso, mostrou também a importância da história anterior para o desenvolvimento do enredo como um todo.

Na primeira parte de seu livro, Riter apresenta a protagonista Suzana, destacando a sua dificuldade em se adaptar às mudanças de sua vida após se mudar para uma cidade do interior. Aos poucos, fica claro como a garota se incomoda com a ausência de sua mãe, que está viajando à trabalho, e isso também contribui para a construção de todo o enredo, afinal, se as dificuldades costumam moldar nossas personalidades, o mesmo acontece com as personagens literárias.

Já a segunda parte da história de Suzana reafirma o motivo de sempre apreciar uma leitura juvenil. Sem qualquer pretensão, um grande mistério surgiu para abalar a pequena cidadezinha e transformar radicalmente o meu relacionamento com a leitura. A partir de então, com o enredo mais sólido e por vezes mais interessante, foi impossível não se envolver e criar teorias sobre o que de fato teria acontecido.

Quando a carga misteriosa finalmente surgiu para atrair a minha atenção, se tornou muito divertido participar da investigação, assim como gostaria de fazer caso tivesse me deparado com algum crime em minha adolescência. Como o autor disponibiliza as mesmas informações para leitor e personagem, tive a sensação de realmente estar dentro da história, por isso, ao final, quando tudo é solucionado, me surpreendi tanto quanto as personagens pegas de surpresa com o desfecho.

Embora possa me tornar repetitivo, é impossível escrever sobre uma obra da editora Gaivota sem abusar dos elogios ao projeto gráfico de Duas Vezes na Floresta Escura. Com as páginas em um tom esverdeado e alguns desenhos que embelezam a obra, a ideia de criar a sensação de realmente estar em uma floresta escura é alcançada e se torna extremamente agradável virar as páginas e conferir, em cada mínimo detalhe, mais uma obra de um capricho sem igual.

No geral, Duas Vezes na Floresta Escura é um livro para se ler em uma tarde comum, sem qualquer expectativa, mas sendo possível voltar a ser criança/adolescente através de situações que todos enfrentam nessas fases da vida. Com seus dramas e confusões, mistérios e angústias, Suzana representa com perfeição a instabilidade adolescente, mas se tem algo que vale a pena, além do projeto gráfico e a parte final do livro, é ler uma história com tantas referências ao trabalho do maior escritor brasileiro de todos os tempos — o Bruxo do Cosme Velho, Machado de Assis.

“Mas e os sonhos? E as paixões? É possível também viver sem eles? E se a gente os abandona não seria uma forma de viver infeliz também? E de que adianta estar ao lado de quem nos ama ou de quem precisa de nós, se não estamos inteiros, completos, felizes? Ah, e lá venho eu a pensar que felicidade, de verdade, não existe” (pág. 59).

4 Comentários

  1. Rick,

    Eu entendo completamente quando você fala da diagramação da Biruta e da gaivota, a editora é super caprichosa e cuidadosa com todos os detalhes, a obra fica belíssima, sempre.
    Estou encantada com sua resenha e sei que gostaria desse livro, aliás parece ser daquelas histórias que a gente lê bem rápido e de um fôlego só.

    xoxo
    Mila F.
    @camila_marcia
    www.delivroemlivro.com.br

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  2. Oi Ric =D
    Nunca tinha conhecido este título... Mas para ser sincera, após ler a sua resenha o que me chamou a atenção é para saber como são as diagramações das obras, em especial deste. Mas a história em si, não sei se eu iria gostar muito...Mesmo assim, amei a resenha... apontou os pontos chave da história e apresenta muito bem ao leitor a obra.

    Beijos
    Lylu

    Relíquias da Lylu

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  3. Olá Ricardo!
    Não conhecia este livro e parece ser muito bom. As vezes a gente precisa de uma leitura mais leve e que também nos leve de volta a adolescência.
    Beijos!

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  4. Olá Ricardo,

    Esse é mais um livro que fico conhecendo aqui, a capa é muito bonita e pela sua resenha em mãos é mais ainda, gosto do gênero e gostaria de ler com certeza, dica anotada.

    Abraço.
    http://devoradordeletras.blogspot.com.br/

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