- A Briga -

Tem dias que pensamos que nada vai poder destruir nossa alegria, nossa felicidade, no entanto, sempre existe algo capaz de suplantar as boas emoções.
No dia seguinte, na mesa do café da manhã, Laura perguntou a filha como havia sido o encontro com Ricardo, se ele havia pedido para namorá-la. Joana contou-lhe superficialmente que tinham se divertido bastante, mas não haviam tocado no assunto namoro, que ela também não tinha pressa em namorar, pois tinha em vista outras coisas.
Laura de modo áspero propôs que Joana:
_ É melhor você encontrar logo um namorado, principalmente se você pretende levar Alice a todos os lugares que for. Alice vai acabar ficando com o melhor.
Joana levantou os olhos e falou indignada:
_ Mãe isso não importa para mim.
Alice que estava na outra extremidade da mesa disse com voz baixa:
_ Tia é um absurdo o que esta falando, eu jamais...
_ Cale-se Alice, ninguém aqui está falando com você _ gritou Raul.
_Pai _ repreendeu Joana _ que ridículo tudo isso. Não percebem que estão sendo injustos e tiranos com a Alice? Ela nunca fez nada para merecer um tratamento tão desumano!
Laura ficou de pé e disse rudemente:
_ Joana retire-se da mesa _ e olhando para Alice, que se encontrava com a cabeça baixa disse _ você também: saiam daqui.
_ Com prazer _ disse Joana entre dentes, levantou-se e saiu.
Alice se levantou e ainda tentou dizer:
_ Tia eu não...
Laura fez um gesto para que ela se calasse.
Joana olhou para Alice que estava sentada perto da janela de seu quarto observando a rua e disse:
_ Não quero que fique assim Alice, você não pode deixar que mamãe estrague o momento mágico que está passando.
_ Jô eu não compreendo o que eu fiz para que eles me odeiem tanto... _ falou com os olhos cheios de lágrimas _ eu me vejo completamente castigada por algum motivo que ignoro qual seja. Também não consigo compreender como você pode ser tão boa...
_ Eu vejo o que eles fazer Alice e não quero ser como eles, essas atitudes me deixam enojada _ interrompeu Joana.
Alice percebia todo o esforço da prima em fazer justiça, mas também via o quanto seria difícil os tios aceitarem que ela havia começado a namorar. Os tios ainda não estavam preparados para esta confissão, e mesmo se estivessem, eles não aceitariam que ela estava namorando e não a Joana. Para Laura e Raul Joana sempre teria que vir em primeiro lugar, ou ter sucesso primeiro, Alice tinha que viver a margem, ignorada e desprezada.
Os dias iam passando e sempre que havia uma oportunidade, geralmente proporcionada por Joana, Alice encontrava-se com Eduardo. Os dois viviam uma linda história de amor.
Alice já havia contado um pouco de sua história para Eduardo, contou-lhe sobre o trauma que a perda dos pais havia lhe proporcionado, o amor que sentia por Joana e o desprezo e as humilhações passadas por conta dos tios.
Eduardo também havia lhe contado sobre sua vida: seus pais já haviam planejado todo seu futuro sem ao menos questioná-lo se era isso o que ele realmente queria, para seus pais o que importava eram seus sonhos e não os dele: "Mas, por que os deixa fazer isso Edu?", perguntou certa vez Alice. Ele não tinha escolha, simplesmente tinha que fazer, pois se culpava constantemente pela morte de seu irmão mais velho: Alfredo. Alfredo faleceu salvando Eduardo de um acidente. Desde então, Eduardo se sente na obrigação de compensar os pais pela perda e fazer todas as vontades dos mesmos.
Certo dia, Alice e Joana combinaram de se encontrar com Ricardo e Eduardo no clube. Chegando lá, como de costume Joana foi dançar com Ricardo, deixando Alice e Eduardo a sós.
Os dois conversavam o tempo todo e nunca faltavam assuntos.
Enquanto Alice e Eduardo se beijavam calorosamente e apaixonadamente, Laura e Raul entraram no clube e Laura os viu, ficou chocada. Caminhou até eles e gritou:
_ Que significa isso Alice?
Eduardo e Alice se desvencilharam e olharam Raul e Laura assustados.
_ O que pensa que esta fazendo Alice? _ vociferou Raul puxando grosseiramente Alice de modo que ela quase caiu ao ser forçada a levantar-se.
_ Não estamos fazendo nada errado... _ tentou argumentar Eduardo levantando-se simultaneamente.
_Cale-se rapaz _ gritou Raul.
Laura esbofeteou Alice. Alice desequilibrou-se e caiu no chão. Neste momento todos que estavam no clube ficaram a observar curiosos à cena.
Eduardo tentou se aproximar de Alice e tentar levantá-la, mas foi impedido por Raul.
Joana, enfim, conseguiu ultrapassar os curiosos e postou-se ao lado de Alice, ajudando-a a levantar-se e disse:
_ Como puderam fazer isso? Que motivos vão alegar para tamanha brutalidade?
Laura também esbofeteou a filha e disse:
_ Vocês duas mentiram para nós... Como puderam fazer isso?
Joana levantou o rosto e gritou:
_ Não estamos fazendo nada de mal, mas vocês sim! Acham justo proibir Alice de ser feliz? Acham justo e coerente fingir para sociedade serem pessoas maravilhosas enquanto na realidade não passam de duas pessoas egoístas e hipócritas?
Laura gritou:
_ Como ousa me enfrentar na frente de todas essas pessoas Joana?
_ Da mesma maneira que a senhora ousou violentar a mim e a Alice _ respondeu Joana sarcástica.
Laura virou-lhe as costas e saiu a passos largos do clube. Raul puxou Alice brutalmente e foi atrás da esposa.
Joana olhou para Eduardo e Ricardo e tentou se desculpar pela situação. Os curiosos já se dispersavam:
_ Preciso voltar para casa antes que meus pais matem Alice _ olhando para Ricardo perguntou _ Ricardo você me leva pra casa?
Ricardo levou-a para casa. Chegando lá Joana correu para o quarto da prima e encontrou Laura e Raul profanando impropérios numa discussão terrível.
Joana postou-se frente sua prima e começou a defendê-la. Laura foi grosseira.
Neste momento Alice empurrou Joana e com os olhos cheios de lágrimas falou:
_ Tia, não vou deixar que destruam minha felicidade. Eduardo e eu não estamos fazendo nada de mal, o nosso amor é tão lindo e inofensivo. Não sei o que fiz para merecer este tratamento de vocês, mas... Já esta se tornando intolerável, já não agüento mais.
_ Você é uma mal agradecida Alice, como pode fazer isso conosco que sempre te demos de tudo _ falou Raul.
_Coisas materiais tio! Carinho e amor  vocês nunca foram capazes de me dar _ gritou Alice furiosa _ se não fosse a Jô eu teria sido totalmente desprezada aqui nesta casa.
Joana disse para os pais:
_ Por favor, saiam, já chega de tanta briga. Pelo amor de Deus, isso não vai levar a nada!
Laura vendo que a filha tinha razão saiu, enfim, do quarto e Raul a acompanhou.
Alice caiu sentada na cama, enquanto Joana sentava-se ao lado dela dizendo:
_ O que mamãe e papai fizeram co você?... _ olhando os machucados _ Não consigo acreditar como meus pais podem ser tão ruins com você!
_ Jô, vou precisar de sua ajuda: não quero mais ficar morando aqui com seus pais, eu amo você, mas seus pais ultrapassaram todos os limites hoje, estou completamente envergonhada por tudo o que aconteceu _ parou para respirar _ vou para um hotel ou qualquer outro lugar, só sei que não posso ficar aqui.
Joana segurou as mãos tremulas da prima e disse:
_ Como vai viver Alice? Você não pode ir!
_ Eu preciso! Se eu quiser viver minha história de amor com o Edu vou precisar arriscar tudo, além do que, será melhor ficar longe de tanto ódio. Jô eu não sou feliz aqui nesta casa!
_ Alice como vai conseguir dinheiro?
_ Vou trabalhar, vou dar um jeito, só não vou perder o Eduardo, o que estou sentindo por ele é mais forte que tudo, até mesmo desta dor que estou sentido. Meu amor é mais forte e vai superar essa dificuldade. Sinto que se eu ficar aqui serei manipulada de tal forma que jamais poderei seguir com este amor.
Alice caminhou até a janela e prosseguiu:
_ Tenho tudo para ser feliz com o Eduardo, ambos nos amamos e o mais coerente neste instante é eu ir embora e viver esse amor.
Naquela mesma noite, Alice, colocou numa mala os poucos pertences que tinha e foi para um hotel.


A Autora: Camila Márcia V. Ferreira nasceu em Fortaleza (CE), atualmente reside em Bela Cruz, interior do estado, faz faculdade de Letras pela Universaidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) e é a Bloggeira de Devaneios Fugazes. 
Entrar em contato: E-mail: kmylla_m@hotmail.com  / Twitter: @camila_marcia 

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