Capítulo V: Tenebra



  
  Estava cercado de dúvidas, a respeito deste “Kurt”. Não tinha uma pista de onde encontrá-lo, muito menos a forma com que devia matá-lo. Foi então que consultei o Sr. Das Trevas:
  - Certo... você quer que eu mate esse maluco, tal de Kurt, certo? Mas como você quer que eu faça, sendo que você se quer deu informação sobre este indivíduo? Onde posso encontrá-lo?
  E nada de resposta, tudo quieto. Provavelmente, ele queria que eu me ‘virasse’, resolve-se do meu jeito, talvez para testar a minha devoção diante dele, ou simplesmente por algo que não fazia idéia do que era, mas isso menos importava.
   Minhas habilidades de criminalista eram fundamentais, para encontrar pistas deste pastor. Foi então, que comecei a vagar pelos becos de NY, olhando cada canto da cidade, a procura deste rato. Creio que o esgoto em que ele vivia estava mais perto do que imaginava.
   Caminhei por mais dois ou três quarteirões, e acabei descobrindo algo. Olhei atentamente para uma lata de lixo que estava caída sobre a calçada, que provavelmente algum cachorro vira-lata tratou de virá-la. Vi algo semelhante a um livro, em meio a tanto lixo. Achei curioso, então resolvi pegar. Ao tocar com meus dedos no livro, minha mão começou a se desintegrar, era uma dor desgraçada, semelhante à de queimadura. Arremessei o livro sobre o chão, foi então que vi que este ‘livrinho’ era uma bíblia. Tornei-me realmente um demônio, o clichê de um demônio queimar, ao pegar em algo sagrado havia tornado realidade. Mas me questionei: “O que uma bíblia estava fazendo no lixo?”. Nunca fui religioso, porém sei que quem possui uma bíblia jamais jogaria esta no lixo. Aquela bíblia poderia resolver minha dúvida, de onde encontrar Kurt Matthew. Precisava encontrar alguma forma de abri-la.
    Logo ao lado, em um beco, vi um mendigo deitado, embaixo de papelões. Pela primeira vez, um mendigo seria útil. Caminhei até ele, agachei diante daquele verme, olhei atento para seus olhos, que estavam fechados. Sem precisar dizer nada, aquele pedaço podre, abriu os olhos, olhando assustado para mim, e de imediato, dizendo:
    - Eu não tenho nada, eu não fiz nada, não me mate não me prenda!
    - Não quero nada disso com você, apenas quero que você me faça um favor. Está vendo aquela bíblia ali no chão? Então, quero que você pegue-a e traga para mim.
   Amedrontado, o mendigo, sem questionar o porque disso, correu até a palavra de Deus, e apanhou-a rapidamente, trazendo até mim na mesma rapidez em que foi até ela.
    - É essa aqui, senhor? Tome!
    - Imbecil, se pudesse pega-la, não diria para você ir buscar para mim. Agora, quero que você a abra.
   O rato abriu a bíblia, e logo na contra capa, encontrei o que precisava. Estava escrito:” Caso encontre esta bíblia, favor entre em contato com Kurt Matthew, da Assembléia das Esperanças das Nações, fone: (718) 956-0624. Nossa Assembléia se encontra perto da Ponte do Brooklyn. Que Deus te abençoe!”
  Era mais um acontecido que definitivamente provava, que após meu pacto, a sorte havia se tornado minha amiga.
  Pedi para aquele mendigo embrulhar a bíblia em um saco plástico ou algo parecido. Ele puxou, de debaixo de seus papelões, um saco plástico preto. Seria perfeito, para levar até Kurt, o seu livro perdido.
   Ao tentar caminhar, em direção a rua, o mendigo me segurou pelo braço, dizendo:
   - Não, não, “se” não vai embora antes de me dar uns trocados!
  - Me solte seu verme!
   Presenteei-o com um murro na ‘cara’. Então, consegui partir.
   Avistei um Camaro 74, voando pela rua. Precisava roubar aquele carro para chegar rapidamente até Kurt. Parei no meio da rua, na esperança de que o carro freia-se. E isso foi feito, então, me aproximei da porta do carro, e a abri, violentamente, removendo o motorista. Tomei posse do veículo, e sai rasgando as ruas de Nova York.
   Já tinha noite, quando no horizonte avistei a tal assembléia. Em sua fachada, estava estampada uma bandeira dos EUA, e sem mais símbolos religiosos. Logo abaixo, um letreiro enorme, anunciando “Assembléia das Esperanças das Nações”. Havia chegado ao ponto do abate. Encostei o carro na calçada, em frente ao local, e fiquei esperando.
    As luzes que ofuscavam através das janelas, começaram a apagar, uma a uma. Na esperança de ter sorte, outra vez, comecei a crer que era Kurt, a ponto de sair de lá, provavelmente após alguma reunião de oração, ou culto. Depois de alguns minutos, todas as luzes se apagaram, e a porta da frente se abriu. Enxerguei um homem ruivo, engravatado. Provavelmente, era meu alvo. Ele parecia ser um pastor, pois há dois seres neste mundo, que usam gravatas, e são uns vermes: Pastores e Políticos. Ele não tinha cara de político.
   Abri a porta do carro em que estava, e caminhei com a bíblia que encontrara mais cedo no lixo. Perguntei:
   - Me desculpe, mas o senhor é Kurt Matthew?
   - Sou sim, em que posso ajudá-lo?
   - Estava vagando por ai, e encontrei esta bíblia jogada em um lixo, e nela continha informações que me trouxeram até aqui, creio que seja sua.
   Entreguei a bíblia a ele, analisando o indivíduo, tentando descobrir como matá-lo. Após abrir e folhar a bíblia, o homem respondeu:
   - Oh, meu Deus, muito obrigado! Você não sabe o quanto fiquei desesperado atrás desta bíblia! Realmente, estou muito agradecido... Que Deus te abençoe.
   Ao ouvir “que Deus te abençoe”, senti que soava os sinos do inferno dentro de mim. Era novamente, aquela sensação de estar queimando. Meu corpo ficou fraco, perdi a força nas pernas, e acabei caindo no chão. Kurt, preocupado, perguntou:
   - Meu Deus, o que houve com você rapaz! Você esta se sentindo bem?
   E então, ele olhou fundo em meus olhos, percebeu que os mesmos estavam vermelha cor de sangue.  Sem cerimônias, ele percebeu o do que se tratava:
   - Ah... Então é isso, você foi enviado para me matar não é? Deve ser por causa do meu passado... Ainda tenho latente, dentro de mim, vestígios daquele pacto... Deve ser por isso que você está aqui, não é? Para recuperá-lo, e desencadear o apocalipse sobre o mundo. Mas eu não vou permitir. Em nome do Senhor, repreendo todo...
    Antes de terminar de falar, me senti firme outra vez. Meu amigo estava fazendo contato mais uma vez:
   - Ora, ora, não é que você achou este desgraçado? Pelo visto, você não é nada sem meus poderes não é? Bastou uma palavrinha sobre Aquele cara, que você já esta se contorcendo todo aqui, feito um lixo? Levante-se, use de meu poder, eu sei que você quer, eu sei que você precisa. Que soe a quinta trombeta do apocalipse!
    Depois destas palavras, me senti poderoso, e após a última frase do meu amigo, gafanhotos começaram a sair de minha boca, em direção de Kurt, que não teve como terminar a sua frase de repreensão.
     Kurt foi torturado por alguns minutos, pelos gafanhotos, até que eles se foram, e deixaram o homem desmaiado. Questionei o demônio:
     - Como devo matá-lo? Há alguma forma específica de fazer isso? Creio que não será tão simples, pois ele é servo de Deus.
    - Ahh... Admiro a sua capacidade de compreensão, Lucas. Realmente, não será tão simples assim. Para matá-lo, você precisará fazer algo bem interessante, enquanto ele esta desmaiado. Sei que se lembra perfeitamente, o que você fez mais cedo, naquela casa em ruínas. Você terá que fazer o mesmo, porém, ao invés de usar o seu sangue, você terá que usar o sangue de Kurt. Corte o pulso direito dele, faça um pentagrama em volta do corpo desmaiado. Depois, você só precisará falar algumas palavrinhas mágicas : “Tenebris dominatur corpore hominis”. Isso será o suficiente para matá-lo, e trazer a alma dele aqui em casa.
     Antes que responder, luzes fortes começaram a me segar. Comecei a ouvir barulho de sirenes, e então percebi que era um cerco policial. Um dos policiais, anunciou em um megafone:
    - Polícia de Nova Iorque, você está preso pelo furto de um Camaro ano 74, e pela morte de Kurt Matthew, ajoelhe-se!
    - Haha, ele não está morto, está desmaiado!
   - Ajoelhe-se ou vamos atirar!
   Vi um outro policial, cochichando com o que estava com megafone, e após isso, retornou a gritar naquele aparelho irritante:
   - Meus Deus, é você Lucas? O que diabos aconteceu com você?
   - Não sou Lucas, agora eu sou um anjo do apocalipse!
   Não fazia idéia do que estava dizendo, provavelmente foi o demônio que me fizera dizer tais palavras, pois eu era um fantoche em suas mãos.
    Estava diante de um problema, precisava matar Kurt e fugir dos meus antigos colegas de trabalho, mas meu coração dizia que não devia machucá-los. Mas o poder do diabo, estava corrompendo os sentimentos do meu coração, e ao meu ver, matá-los tornou-se o certo. Não tinha escolha, pois minhas escolhas eram influenciadas por satanás. Ajoelhei no chão, e pensei “Seja o que Deus quiser.”  

3 Comentários

  1. Meio estranho a última frase do Lucas :s Acho que o 'demônio' não iria gostar disso, mas com essa história, dá pra se esperar tudo.

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  2. @_ricbiazotto mas essa foi a intensão desta ultima frase... criar uma controvérsia EHEAUAE

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