Claridade, luz do dia
Clarissa, Érico Veríssimo, São Paulo: Companhia das Letras, 2005, 184 pág.
“Por que será que a vida parece melhor e mais bonita de manhã quando há sol, vento fresco, céu azul? E esta gente que acordou ind'agorinha, que se debruça à janela, que canta, sorri, e cumprimenta os que passa?...”(p.20)
Clarissa foi originalmente publicada no ano de 1933, ano de grande efervescência na literatura brasileira, pois se trata do período de transição entre a primeira e segunda geração modernista, tanto é que esta obra carrega características peculiares a ambas as gerações. Escrita por Érico Veríssimo, um dos escritores mais populares do século XX, nascido na cidade de Cruz Alta (Rio Grande do Sul) em 1905 e faleceu em Porto Alegre em 1975, vítima de um enfarto. Entre suas obras mais conhecidas estão: Olhai os Lírios do Campo (1938); O Tempo e o Vento (1949) e Incidente em Antares (1971).
Esta novela vem a tratar da vida de uma menina-moça de 13 anos que ‘amanhece’ para a vida: Clarissa, que mora na pensão da tia Eufrasina e do tio Couto, lá ela contempla a vida com seus olhos inocentes e tenta desvendar seus mistérios: “Todos tem um segredo, todos tem um mistério”. Desse modo, Clarissa contempla os dias, as pessoas e tudo ao seu redor e, a partir desta contemplação, vai descobrindo que a vida não é colorida como sempre pensou “A vida é má, menina, a vida envenena”.
Mesmo com sua percepção infantil e já quase adolescente, Clarissa vê e sabe de coisas que outras pessoas não sabem: Ondina trai o marido, Barata, com Nestor; Amaro é um músico triste e frustrado; a tia Eufrasina é uma mulher conservadora que não se adaptou ainda a modernidade e aos novos ‘costumes’, na casa ao lado mora uma viúva que trabalha dia e noite, noite e dia para conseguir dinheiro para cuidar do filho mutilado, do outro lado há uma casa rica com crianças felizes, musica e alegria.
Neste meio tempo, outra personagem que se sobressaí é Amaro, o músico, que vive a vida a contemplar a juventude de Clarissa, como a se arrepender por não ter aproveitado a sua. Amaro vive nostalgicamente do passado, a divagar e a relembrar cenas de sua infância e adolescência.
Clarissa é uma novela que apesar de ser uma prosa poética e apresentar uma sensibilidade incrível – mostra o tato do autor ao narrar e descrever cenas com todos os matizes e cores é impressionante – vêm a abordar temas polêmicos inerentes as atualizações modernas como questões sociopolíticas, filosóficas, enfim.
Muito me agradou a leitura de Clarissa, mostra que Érico merece todos os méritos que um romancista pode ter, pois sua forma de contar história, a forma como mostra a personagem Clarissa despertando para a vida, vendo seus sonhos e fantasias infantis serem destruídos à medida que cresce é fantástica!
Não poderia deixar de indicar este livro para todo e qualquer leitor que tenha sensibilidade, que aprecie uma boa leitura, que goste de uma linguagem poética. Posso afirmar que a leitura não é cansativa, pelo contrário.

 [por: Camila Márcia]
@camila_marcia

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