História Sincera de Dom
Sebastião Leme, Ubirajara Rocha e Francisco da Silva Costa, Poços de Caldas-MG
Desde
minha infância, ouvi história de um homem que é e sempre será o filho mais
ilustre da minha Espírito Santo do Pinhal. Nos primeiros anos do Ensino
Fundamental, não via a hora de chegar o dia em que estudaria na escola que leva
seu nome. Quando entrei nessa escola, diversas vezes fui até o Museu Municipal e
vi relíquias daquele homem que tanto ouvi falar, e agora, meu avô me deixou o
livro História Sincera de Dom Sebastião Leme, dos conterrâneos Ubirajara Rocha
e Francisco da Silva Costa. Toda a história do Cardeal Leme foi contada por
esses dois pinhalenses em quatro volumes, totalizando sete capítulos. No
primeiro volume, é contado três fases da vida do Cardeal Leme: a meninice do
Cardeal (1882-1894); de Seminarista a Cardeal (1894-1930); o Padre Sebastião
Leme visita a terra natal (1904).
A meninice
do Cardeal: na quinta-feira, 19 de janeiro de 1882, o casal Ana Pio da Silveira
Cintra, dona de casa, e Francisco Furquim Leme, professor, estavam em um almoço
na fazenda Nova Lousã, quando a mulher passou a sentir as dores do parto.
Imediatamente o casal voltou para Espírito Santo do Pinhal, para se realizar o
desejo de Ana Pio de ter seu filho na cidade Rainha das Serras. No dia seguinte
nasceria Sebastião Leme da Silveira Cintra, que recebeu esse nome devido ao
santo que se comemora nesse dia. Quis o destino, que pouco mais de um ano
depois, Francisco Furquim viesse a falecer. Na primeira parte do livro, os
autores contam a bela infância do menino e principalmente a relação que ele
tinha com sua mãe que cuidou e o educou sozinha. Vale ressaltar, que o livro
que provavelmente foi escrito na década de 70, consegue passar uma história
rica em detalhes, apesar de serem poucos os documentos que falam sobre os
primeiros 12 anos da vida de Sebastião Leme.
De
seminarista a Cardeal: o segundo capítulo dessa obra histórica, retrata toda a
carreira eclesiástica do filho mais ilustre de Espírito Santo do Pinhal antes
de chegar ao cardinalato: sua entrada ao seminário, sua ordenação – se tornando
o primeiro padre nascido nessas terras - os cursos que ministrou e sua vida
também como arcebispo de Recife e Olinda. Sebastião, que após sair de Pinhal
voltou poucas vezes até aqui, mas mesmo assim continuou com as boas lembranças e
elogios a sua “santa terrinha”, prova disso são as diversas cartas escritas e
discursos feitos em sua carreira como apóstolo de Cristo. A ascensão de
Sebastião Leme foi consideravelmente rápida e com menos de 50 anos já era
Cardeal, cargo mais importante na igreja após o Papa. (Cardeal Leme foi o segundo
a exercer esse cargo no Brasil). Dentre os pontos mais importantes nessa parte
do livro, sem dúvidas são as obras criadas por ele em seu cargo, principalmente
como Arcebispo do Rio de Janeiro. Obras essas que são importantíssimas na
igreja brasileira, como a criação do Cristo Redentor no alto do Corcovado e tornou
Nossa Senhora Aparecida como padroeira do Brasil.
O
Padre Sebastião Leme visita a terra natal: talvez a parte mais complexa desse
primeiro volume, o capítulo três conta uma das duas visitas oficiais de
Sebastião Leme a Espírito Santo do Pinhal. Alguns meses após se ordenar, o até
então padre Sebastião veio em um trem que saiu de Campinas e aqui foi recebido
com festa por toda a população local, que já adorava e aclamava o primeiro
padre pinhalense. Foi na Igreja Matriz do Divino Espírito Santo, que ele
celebrou sua primeira missa, no mesmo altar em que fez a primeira eucaristia anos
antes. Nessa parte, há muita relação histórica, principalmente sobre a época em
que o Brasil e a cidade viviam naquele ano. "O padre SEBASTIÃO, como depois o Cardeal, era senhor dos pensamentos, sabia guiar bem sua mente; irradiava o olor da virtude; era mente excelentíssimo de virtude, suas palavras eram ricas de senso e proveitosas; todo ele brilhava como uma estrela de serenidade no meio das multidões obtusas, cegas, aflitas. (pág. 94)"
Aos poucos,
percebemos porque Sebastião Leme foi uma pessoa tão boa e aclamada em nossa
cidade. A relação entre ele e Donana (Ana Pio) é belíssima, como também a do
Cardeal com alguns antigos amigos, por exemplo, Jacob Worms, que também foi
prefeito da cidade. Ver como ele amava a nossa pequena cidade, apesar de não
participar efetivamente da sociedade, também é algo para os pinhalenses se orgulharem.
Temos diversos textos históricos e que sem dúvidas fazem parte da história da
cidade, que é retratada muito bem neste livro, colocando números sobre Pinhal que
até então desconhecia.
Toda
a pesquisa ficou a cargo do jornalista Francisco da Silva Costa, enquanto a escrita
foi Ubirajara Rocha o responsável. A forma com que ele escreve é fácil, apesar
de ser um livro já com algumas décadas. Há apenas dois problemas: as repetidas
vezes em que o autor conta alguns fatos e as datas que muitas vezes se
contradizem em apenas uma frase. Diversas vezes Ubirajara cita que o garoto
saiu de Pinhal para ir ao seminário com quatorze anos e dez anos depois celebrou
a primeira missa, porém, segundo a escrita Sebastião voltou com 22 anos.
Infelizmente esse erro acontece em diversas páginas do livro.
Ao
ler História Sincera de Dom Sebastião Leme, percebemos o como esse pinhalense é
importante não só para a cidade, como para todo o país. Isso não acontece
apenas na igreja, mas também na política. Era um homem com características
únicas. Um homem santo e simples, que ao falecer não deixou nada além do que
havia em seu quarto, no palácio onde morava no Rio de Janeiro. Seus pertences estão
no Museu Municipal de Pinhal, enquanto seus restos mortais continuam na cidade
maravilhosa, onde foi arcebispo por 12 anos.
Me
sinto um privilegiado por ter lido uma obra riquíssima em história de um conterrâneo,
o que entristecesse ao ler essa obra, é saber que mesmo sendo o filho mais
ilustre da cidade, poucos conhecem sua história de vida e sabem que não foi
apenas um grande servo de Deus, mas também uma grande pessoa e homem público. Com
esse livro, não tenho dúvidas que se Cardeal Leme participasse de um conclave
(acredito que ele não tenha participado em 1939), teria grandes chances de se
tornar Papa e assim ser o primeiro representante brasileiro. "...o maior filho daquela terra: o Cardeal LEME. O divino Espírito Santo, que protege e santifica a cidade privilegiada de Pinhal, fez de SEBASTIÃO LEME uma figura exponencial da Pátria e um dos mais eméritos e atilados Príncipes da Santa Igreja. Poucos homens terão possuído aquela penetração psicológica com que o Cardeal LEME se apoderava irresistivelmente dos corações, mesmo daqueles que eram infesos ao cotolicismo [...] Raros Pastores de almas foram enriquecidos por Deus daquela delicadeza de intuição com que o Cardeal LEME se debruçava, oportuno e comedido, sobre as chagas ocultas dos corações sofredores." - Dom LUIZ MOUSINHO, Bispo de Ribeirão Preto ("Diário de Notícias", Ribeirão Preto, em 14 de Junho de 1953). (pág. V)"
Infelizmente ainda não sei se também terei a oportunidade de ler os demais volumes dessa obra, mas ainda espero que um dia toda a história de Dom Sebastião Leme seja republicada com maior riqueza de detalhes, porque sua pessoa merece toda essa homenagem que só um livro poderia proporcionar.