O Nome do Vento, Patrick Rothfuss, tradução de Vera Ribeiro, 1ª edição, São Paulo-SP: Arqueiro, 2009, 656 páginas.

Publicado originalmente em 2007, O Nome do Vento (The Name of the Wind) é o primeiro livro da trilogia A Crônica do Matador do Rei, escrito pelo professor universitário Patrick Rothfuss. Da lista dos mais vendidos do The New York Times, o primeiro romance de Patrick lhe rendeu o Quill Award, importante prêmio literário americano, provando porque este é um dos melhores livros dos últimos anos.
Nesse primeiro livro, conhecemos Kvothe (“pronúncia semelhante à de ‘Kuouth’”), cativante e enigmático personagem proprietário da hospedaria Marco do Percurso. Seu passado é sinistro e amedronta pessoas de todos os cantos do mundo e o tempo foi responsável por dar uma nova versão as histórias de Kvothe. Com o intuito de resgatar a veracidade dessas histórias, eis que aparece um Cronista, disposto a escrever tudo aquilo que o protagonista tem a dizer.  De inicio Kvothe é contra, mas acaba cedendo e inicia uma história fantástica que necessita de três dias (três livros) para ser contada.
Antes de se tornar proprietário da hospedaria, Koteum dos diversos nomes que Kvothe também era conhecido – fez parte de uma trupe itinerante, que passava dias e mais dias andando pelas estradas. Sua vida ganha um novo rumo quando toda a trupe é assassinada (Não. Não é spoiler). Ele então passa a viver sozinho, nas ruas de uma cidade e só depois de muito tempo ingressa na Universidade, uma instituição onde todos os seus objetivos poderão ser alcançados, inclusive as informações que podem ajuda-lo e se vingar.

“Quando crianças, raramente pensamos no futuro. Essa inocência nos deixa livres para nos divertirmos como poucos adultos conseguem. O dia em que nos inquietamos com o futuro é aquele em que deixamos a infância para trás. (pág. 84)”.

Espetacular seria pouco para descrever o que encontramos em O Nome do Vento, um livro que não precisou de muitas páginas para encantar e que nem mesmo 656 páginas foram capazes de assustar. Durante boa parte do livro, Kote conta a sua história ao amigo Bast e ao Cronistra, que registra tudo. A escrita de Rothfuss é tão incrível que sentimos como se estivéssemos no Marco do Percurso, ouvindo a história do próprio contador. Há um envolvimento raro em livros contados em 1ª pessoa, e para melhorar, alguns capítulos são contados em 3ª pessoa, mostrando o que acontece na hospedaria em algumas pausas da história.
Durante mais de 80 capítulos, vamos conhecendo um pouco da infância e adolescência de Kote, e percebendo as dificuldades que ele enfrentou para alcançar seus objetivos. As passagens mais importantes são descritas e acompanhadas por histórias da mitologia criada pelo autor e por música. Muita música. Nos encantamos com determinadas personagens, e por outras nasce um sentimento adverso que nada é capaz de mudar. Torcemos pelo sucesso do protagonista e entramos na história como se isso pudesse mudar o rumo de tudo aquilo que está nas palavras de Rothfuss.
O autor criou um mundo fantástico, desde a mitologia até o que envolve a sociedade de Os Quatro Cantos da Civilização. Alguns podem dizer que há referências a outras histórias, mas isso em nenhum momento impede que o livro se torne inesquecível, afinal, existem muitos pontos singulares e isso é indiscutível. Indiscutível também é a escrita encantadora de Patrick Rothfuss, que mostra o talento que o levou à lista dos mais vendidos.

“- Deoach, meu coração é feito de material mais forte do que o vidro. Quando ela atacar, descobrirá que ele é forte como um liga de bronze e ferro, ou uma mescla de ouro e diamante. Não pense que estou desprevenido, que sou um cervo assustadiço, imobilizado pela trompa de um caçador. Ela é quem deve tomar cuidado, porque, quando atacar, meu coração emitirá um som tão lindo e claro que não terá como deixar de trazê-la de volta para mim, voando como se tivesse asas. (pág. 436)”.

De nada adiantaria se essa escrita encantadora resultasse em personagens simples e se você imagina que aqui encontraria algum defeito, está enganado. Todas as personagens, sem exceção, conquista o leitor de alguma forma, gerando amor ou ódio. Seja por sua inocência, por seu sarcasmo, simpatia ou beleza. E não há personagem mais cativante do que o próprio Kvothe. Ele é simplesmente o melhor, porém seus amigos, os professores da Universidade e as mulheres de sua vida também merecem destaque, afinal, sem eles o protagonista seria completamente diferente e sem graça.
Por falar em Universidade, o autor criou uma instituição com regras e formas de ensino que também chamam a atenção. O sistema monetário e a contagem do tempo também foram criados de maneira satisfatória, diferenciando e muito de algumas histórias que são comparadas ao livro O Nome do Vento.
Não seria necessário dizer sobre o trabalho da editora Arqueiro, afinal, todos os livros são bem trabalhados. Neste caso os elogios já se devem a capa, criada por Victor Burton e que fica muito acima da capa original. A diagramação é simples, mas tradução e revisão também merecem elogios.
É difícil descrever tudo o que sentimos ao ler esse primeiro livro, mas é fácil dizer que O Nome do Vento é um dos melhores livros resenhados em 2012 e dificilmente isso será superado, a não ser que O Temor do Sábio, a continuação, seja tão boa quanto as críticas e as expectativas apontam. Muita coisa está por vir, e algumas perguntas continuam sem respostas, porém este é um livro para ser lembrado e lido por todos. E como diz o Publishers Weekly: “Este é o típico primeiro romance que muitos autores sonham escrever. O mundo fantástico ganhou uma nova estrela”.

“Às vezes temia que a lembrança da morte da minha trupe e a lembrança do Chandriano fossem apenas um tipo estranho de sonho de luto, criado por minha mente para me ajudar a lidar com a perda do meu mundo inteiro. Mas agora eu tinha algo semelhante a uma prova. Eles eram reais. Minha lembrança era real. Eu não era louco. (pág. 511)”.