Não fale com estranhos, Harlan Coben, tradução de Marcelo Mendes, 1ª edição, São Paulo-SP:
Arqueiro, 2016, 304 páginas.
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Apenas algumas palavras ditas por um estranho, em um bar qualquer, foram capazes de destruir a vida de Adam Price. Assim, de uma hora para outra, tudo o que ele acreditava sobre a sua família, e especialmente sobre sua esposa Corinne, se desmoronou, colocando uma pulga atrás de sua orelha que o obrigou a ir atrás de respostas que, para sua infelicidade, mostraram que todas as revelações eram incontestáveis.

Ao confrontar Corinne, ele percebe que a imagem de sua esposa, criada por ele com perfeição, tinha grandes falhas e isso o leva a uma investigação por conta própria, onde acaba se envolvendo em mentiras, chantagens, assassinatos e motivações que vão além de interesses próprios.
“As palavras chegavam até Adam como murros de um pugilista, atordoando-o, debilitando-o, deixando-o trêmulo e zonzo, pronto para receber do árbitro a contagem protetora dos oito segundos. Sua vontade era reagir, esmurrar o filho da puta por ter ofendido sua mulher daquela maneira, agarrá-lo pela camisa e arremessá-lo para o outro lado do salão. Mas não foi o que fez” (pág. 10).
Harlan Coben é aquele tipo de autor que não cansa de surpreender e lança um livro melhor do que o outro. Não fale com estranhos é apenas mais um exemplo que não apenas me dá muitos motivos para classificá-lo como um dos meus autores favoritos, como também reforça a ideia de que ele é o maior nome da literatura de suspense na atualidade.

O primeiro grande motivo vem da maneira como uma única informação, que a princípio não faz qualquer sentido, foi capaz de me levar para dentro da história, como se fosse eu a receber uma notícia nada agradável de um estranho que sabia coisas que jamais passaram por minha cabeça. Bastou o estranho revelar segredos completamente malucos para nada mais tirar o enredo da minha cabeça e com isso me envolvi como em quase todos os livros anteriores.

Um ponto importante que contribui para esse envolvimento foi mais uma vez as personagens. Com exceção de um único protagonista (David Beck, do incrível Não conte a ninguém), Coben sempre acertou em cheio na construção de suas personagens principais e com Adam não poderia ser diferente. Além de não ser ingênuo, ele não se faz de cego ao encarar a realidade e ainda se mostra um ótimo pai, sabendo como e quando agir no momento certo — e isso vale inclusive nos momentos finais e de maior tensão. Mas ironicamente não foi ele quem causou um verdadeiro misto de sensações e reações.

Corinne está longe de ser a mais misteriosa das personagens, porém suas atitudes são extremamente intrigantes. Até que tudo seja de fato esclarecido, ela causa uma mistura de amor e ódio. Tanto que ao mesmo tempo que torcia por uma explicação razoável, para que tudo voltasse ao normal, torcia também para que ela sofresse muito e no final se arrependesse de tudo o que fez. E confesso que há tempos isso não acontecia, ainda mais com uma personagem secundária.

Com as características dessas personagens, Harlan Coben constrói um enredo que vai muito além do imaginado. Se em um primeiro momento tudo parece se desenvolver apenas com os segredos obscuros de Corinne, aos poucos outras personagens surgem com segredos tão obscuros quanto esses. Com isso são revelados os antagonistas do enredo, mas não se engane: quando se trata de Harlan Coben, nem tudo é o que de fato parece e, enquanto não chegar ao último ponto final, muitas revelações ainda aparecerão para surpreender.

Não ousaria afirmar que o enredo de Não fale com estranhos superou o livro supracitado, que na minha visão é o melhor trabalho de Coben e essa opinião se mantém mesmo após conhecer diversas outras obras. Porém mais uma vez o autor criou um mistério em que não dá para prever o que está prestes a acontecer e, além disso, o resolveu sem que nenhuma ponta ficasse solta ou sem uma explicação razoável. Mesmo preferindo algo diferente para o desfecho, não há o que reclamar.
“Sonhos são frágeis. Sonhos são breves. Um dia acordamos e, puf, lá se vão eles. Basta um minuto de distração para que o sonho vá recuando na fumaça até sumir para sempre, por mais que tentemos puxá-lo de volta. E naquele momento em particular, vendo o filho fazer o que tanto amava, Adam não pôde deixar de achar que, desde a visita do estranho, seu sonho de uma vida familiar perfeita estava com os dias contados” (pág. 234).

3 Comentários

  1. Que resenha fantástica. Não é o meu gênero favorito, mas se fosse eu leria. Parabéns pela resenha, Rick!

    Beijos.

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  2. amo o Harlan e estou louca para ler esse! ótima resenha :)

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  3. Olá Ricardo!
    Adorei esta resenha e mesmo não conhecendo o livro e nem muito sobre o autor, fiquei com vontade de ler.
    Gosto de um pouco de mistério nos personagens.
    Beijos!

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