Capítulo IV: O Início do Apocalipse

  
  Meu amor aproximou-se de mim, com seus lábios ardentes, a procura dos meus. A minha alma estava ansiosa para receber um beijo daquela mulher, mas sentia que não podia mais controlar o meu corpo. Minhas ações eram involuntárias, me sentia como um fantoche, como se alguém tivesse me controlando. Foi então o momento que as palavras daquele ser bizarro começaram a fazer sentido. Não foi um sonho, ou melhor, um pesadelo, foi tudo real, eu havia vendido minha alma para o demônio, em troca de minha vida.
  Quando Lavínia tentou me beijar, coloquei o dedo indicador de minha mão direita sobre os lábios dela, em tentativa de evitar que o beijo acontecesse, mas ela foi insistente, e tirou meu dedo de sua boca, e acabou me beijando. No mesmo instante, fez uma cara de espanto, e olhou para mim, dizendo amedrontada:
   - O que foi que aconteceu com você? Você parece diferente... Não parece ser o homem que eu costumava amar...
  Novamente, perdi o controle de minhas palavras, e nada conseguia sair de minha boca. Era obra de aquele ser infeliz.
   Ela então insistiu:
   - É por causa de nossas brigas não é? Ou é por causa desta gravidez? ... Anda me diga!
   E nada saiu de minha boca.
   Foi muito triste, ver o meu amor, naquela situação, falando com um fantoche sem coração. Nem sequer lágrimas escorriam de meus olhos, parecia que definitivamente, me tornara um ser sem sentimentos.
   Lavínia continuou a falar:
   - Você realmente não mudou nada desde que resolvemos morar separados... Está do mesmo jeito, mesmo depois de ter ficado em coma, a beira da morte. Vou indo embora, já fiz tudo o que tinha que fazer por aqui.
   E retirou-se daquele quarto de hospital. Mal ela sabia que este coma, foi uma ida para o inferno, onde o seu homem fizera uma escolha sem volta, um pacto eterno, com o senhor das trevas.
   Aos poucos, estava recuperando o poder sobre meu corpo, quando de repente, um médico corria desesperado em minha direção. Antes que ele chegasse até mim, recuperei minha posição de Homo Erectus, removi a agulha de meu braço e desconectei de meu corpo, aquele eletrocardiograma irritante, que já estava à beira de me deixar surdo, com aqueles “bips” infernais. Mesmo de longe, o médico gritou:
   - O que você pensa que está fazendo?
   Sem respondê-lo, comecei a caminhar em direção ao elevador.
   Começaram a aparecer homens de brancos por todos os lados, dispostos a me capturar e me prender mais uma vez, naquela cama imunda. Ignorei todos eles, e continuem andando até meu destino, foi então que aquele médico desgraçado me segurou pelo braço e gritou “Ajuda aqui!”. Senti uma vontade imensa de matá-lo, foi um desejo tão profundo, em meu coração, que misteriosamente, aquele maldito foi arremessado na parede, como se algum gigante tivesse o empurrado. Comecei a perceber o poder que estava correndo em minhas veias. Havia me tornado uma espécie de monstro, com poderes sobrenaturais. Não sei se era o ideal, mas estava gostando daquilo.
   Finalmente, cheguei ao meu destino, prestes a apertar o botão do térreo, para sair daquele “inferno”, comecei a sentir novamente aquela sensação de estar pegando fogo. Olhei para meu corpo e estava em chamas, porém nada sentia apenas me senti poderoso, imortal. Vi ao fundo, aqueles homens correndo para me pegar, e sem pensar duas vezes, olhei com um olhar maligno nos olhos destes, foi então que uma bola de fogo saiu de meu peito. Todos começaram a queimar... E morrer. Depois de muito tempo, acabara de me tornar um monstro totalmente sádico.
   Cheguei ao térreo, o fogo de meu corpo se apagou, sai normalmente em direção a porta de saída, como se nada houvesse acontecido em alguns andares acima. Muitos me olhavam, com olhares de espanto, por me verem com aquela roupa de hospital, saindo normalmente até a saída. Percebi que era hora de colocar algo descente em meu corpo.
   Caminhei até a calçada, e vi um homem de estatura semelhante a minha. Era meu dia de sorte, sim, S-O-R-T-E. Pela primeira vez, em minha vida, a sorte estava do meu lado. Aquele pacto parecia estar me fazendo bem. Fui em direção deste homem, sem hesitar, o peguei pelo pescoço, e o arremessei ao chão, onde ele bateu a cabeça e desmaiou. Antes de seu sangue terminar de coagular, removi a roupa daquele indivíduo e as vesti. Sem alarmar mais ninguém, segui em frente, pela rua do hospital, caminhando sem destino.
    Já estava anoitecendo, o sol estava se pondo no horizonte, e os poucos raios vermelhos restantes, estavam me cegando. Fazia horas que estava vagando pela cidade, sem rumo algum. Estava sem dinheiro, sem minha carteira, sem as chaves de meu apartamento. Não sabia se ainda tinha meu emprego, então nem fiz questão de ir até o departamento de polícia.
   Mesmo depois de tanto tempo caminhando, não me senti cansado, mas resolvi sentar em um banco, que estava debaixo de uma arvore, em frente a uma casa abandonada. Sem esperar, aquela voz voltou a me atormentar:
   - É magnífico o poder que você possui não? Está surpreso por conseguir carbonizar aqueles homens no hospital, ou por ter arremessado aquele médico inocente na parede, causando um traumatismo craniano? Conheço-te bem, sei que nada disso te surpreendeu, pois você nada teme, não é?
  - O que você quer? – Respondi pra esta voz
  - Ora, ora meu fantoche. Agora que você é meu, você precisará fazer algumas tarefas para mim. Primeiramente, está vendo esta casa atrás de você? Quero que você entre lá.
  - Ah. Você quer que eu entre... Se eu sou seu fantoche, por que você não me controla, e me faz entrar lá?
  - Não seja mau, só estou tentando ser amigável, ser seu parceiro! Mas se você quer que eu controle você, não reclame das conseqüências HaHa!
  - Que merda! Vou entrar nessa porcaria, “parceiro”
  - Bom rapaz, bom rapaz!
  Caminhei até a porta daquela casa caindo aos pedaços. A porta estava selada, com madeiras entrelaçadas, provavelmente quem as colocou ai, não queria intruso. Coloquei a mão sobre elas, e sem dificuldade, as removi de uma só vez. Meus punhos estavam fortes, sentia que poderia quebrar qualquer coisa com eles.
   Entrei pela porta, que dava até uma sala. Por dentro, a casa estava tão destruída quanto por fora, sem móveis, sem nada, apenas ratos e insetos malditos. A madeira que compunha a estrutura da casa estava preta, de tanto pó, e totalmente podre. A voz retornou, dizendo:
  - Agora quero que você caminhe ao cômodo a sua esquerda.
  Feito isso, a voz continuou:
  - Ahh.. Agora é minha parte favorita. Corte o seu pulso, com suas unhas, para que sangrem.
  - Você está louco, não vou fazer isso?
  - Vai sim!
  Contra minha vontade, minha mão direita, cortou meu pulso esquerdo, e inevitavelmente, meu sangue começou a coagular.
  - Isso, sangue, SANGUE! Continuando, desenhe no chão, uma estrela de ponta cabeça, com o seu sangue... Depois, faça um círculo em volta dela.
  - Era só dizer “Um pentagrama invertido “, demônio burro.
  - Haha! Me faça rir... Sem distrações, agora! Vamos continuar...
  Não era necessário um conhecimento amplo, sobre o mundo em que vivemos para perceber que aquilo se tratava de um ritual.
  Feito isso, ele continuou ditando minhas tarefas:
  ­- Vamos testar suas habilidades, Lucas. Para continuar nosso joguinho, vou precisar que você faça umas coisinhas. Há um homem, chamado Kurt Matthew. Alguns anos atrás, ele fez um pacto comigo, assim como você, e devolvi a vida a ele. Porém, ele rompeu este pacto, e começou a seguir o homem lá de cima. Tornou-se pastor, então, todo o poder que tinha sobre aquela alma insignificante se foi, pois o Senhor dele, fez o favor de remover, com sua divindade.
  - E o que tenho que fazer com esse cara?
  - Acertar as contas, por mim. Mesmo depois de ter se tornado pastor, ele ainda possui meu poder, que está latejante dentro da alma dele. Então, preciso que mate-o, para que eu possa recuperar este poder.
  - E o que você ganha recuperando todo o seu poder?
 - Você ainda não deduziu? Não percebeu o motivo deste pentagrama, ai no chão? Você irá me invocar! A era do Apocalipse irá começar, e tudo está em suas mãos, basta apenas que faça tudo o que te ordenar
 - Que assim seja.
 Aquele demônio se tornou meu único amigo. Parecíamos irmãos... Bem, de certo modo, tínhamos uma ligação, pois possuía um pouco do poder dele.
 Estava com uma vontade de matar novamente, de ver a morte com meus olhos. Sem cerimônia, parti a procura de Kurt Matthew.


3 Comentários

  1. Caraca, esses tais poderes eu não esperava. Muito bom o capítulo, agora é esperar pra conhecer o tal Kurt :s

    ResponderExcluir
  2. Não esperava? EUEAUHEH Espere sempre o inusitado, de mim (6) sabe como eu sou, gosto de exagerar ao máximo, nessas coisas...

    Esse Kurt vai da trabalho AUEHUAEHAE

    ResponderExcluir
  3. Eu imagino mesmo :XXX Agora resta esperar até sábado

    ResponderExcluir